|RESENHA| Grandes Esperanças - Charles Dickens
Eu, que nunca tinha lido nada desse autor, resolvi começar por esse livro que, embora não seja o grande favorito das pessoas, tampouco é o menos gostado, já que muitos dizem que é sua obra mais equilibrada, unindo a criatividade do inicio de sua obra com a qualidade escrita da maturidade. Outros dizem que esse título pertence a David Coperfield mas, como eu disse, é meu primeiro Dickens, então não tenho nada como base de comparação.
Apesar de ser um clássico e tudo o mais, o livro tem uma linguagem simples e acessível. A história é interessante e, apesar de ter vários contornos dramáticos, é narrada com bom humor e de forma divertida na maioria de suas páginas; a ultima parte é um tanto mais dramática mas não pesa, a escrita do autor é tão gostosa que até mesmo ler sobre os sofrimentos e arrependimentos de Pip fica palatável (com outro autor poderia ser penoso esse mimimi do personagem mas não com Dickens).
Falando em personagens, não gostei muito do Pip adolescente/adulto mas ele está cercado sempre de personagens tão interessantes que logo relevei. Desde o calculista Jagger ao incrível Joe, os personagens secundários são todos bem delineados e com uma personalidade que faz com que eles poderiam saltar das páginas para conversar conosco a qualquer momento. Até mesmo ms. Havinsham, com todo a sua aura de mistério, é muito real, muito viva, não parece um personagem mas uma pessoa que Dickens conheceu de verdade. Como ocorre com pessoas, há personagens que gostei, que não gostei, pessoas que aprendi a gostar... meu personagem favorito, no entanto, é o ferreiro Joe, "tio" de Pip. Joe tem tal sabedoria e bom coração que chega a emocionar - destaque para um "discurso" feito por Joe na página 307, para mim um dos momentos mais bonitos do livro. É irônico e revelador que as frases mais sábias venham dos personagens considerados humildes e ignorantes, incitando Pip a ver mais do que a aparência (o que demora um pouco a acontecer).
Falando sobre o livro, os capítulos são curtos e ao estilo de folhetins (se não me engano foi dessa forma que foi originalmente publicado esse livro): a mesma cena não vai de um capítulo para outro, de forma que fica tudo bastante individualizado e fácil de compreender, mesmo que o leitor leia um capítulo aleatório do livro. Isso torna a leitura mais fácil e dinâmica, li esse livro de 600 e poucas em 1 semana e meia mais ou menos.
Sobre o final, não concordei muito com algumas das escolhas do autor, mas entendi o porquê delas. Pip é conduzido o livro todo por uma certa obsessão e, embora aprenda sentindo na pele que há coisas mais importantes, o amor é incontrolável e, nesse caso, duradouro. Logo, embora num primeiro momento não tenha concordado que a vida desses dois personagens voltassem a se cruzar, entendo que, ao fim da história, ambos eram pessoas totalmente diferentes do que foram no inicio. Com tudo isso em mente, a cena do por do Sol é muito bonita.
Indico esse livro para todos que estiverem afim de conhecer as narrativas tão famosas e originais de Dickens. É um autor que não é muito publicado no Brasil, os livros dele ainda custam bem caro, mas existem as edições de bolso, como essa da Saraiva, que tornam a leitura mais acessível. Me encantei tanto com esse livro que agora estou disposta a ler o máximo de suas obras que eu puder.
A única coisa que lamento é não ter lido esse livro quando era mais nova; meu eu pré-adolescente que chorou com Meu pé de laranja lima teria se encantado ainda mais com Grandes Esperanças e essa história teria me acompanhado por todo esse período até hoje, tenho certeza. Mas ainda assim valeu muito a pena.
Nota 9 - um livro muito bom.
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