|RESENHA| O Aleph - Jorge Luis Borges

sexta-feira, setembro 04, 2015 1 Comments A+ a-


   O Aleph é um livro que reúne 20 contos do aclamado escritor argentino Jorge Luis Borges. É um livro relativamente curto, 146 páginas que podem enganar o leitor mais ingênuo e fazê-lo pensar de que se trata de um livro "rápido". Porque, se em outras situações leriamos um livro desses em 1 ou 2 dias, em O Aleph as histórias são tão complexas que tempo para lê-las e pensar sobre seu conteúdo não é só desejado, é também necessário. 
   O tempo, aliás, é o mote principal do primeiro conto, "O imortal". Nele, um o romano Flavius parte em uma busca por um rio que, supostamente, daria imortalidade para todo aquele que bebesse de suas águas. O que, nas mãos de outro autor poderia ser apenas uma aventura fantástica, em Borges se torna um insight estupendo sobre as agruras da imortalidade. E foi assim, logo na primeira história, que é eu percebi que a leitura não iria ser tão simples quanto eu pensava.
"Ser imortal é coisa sem importância. Excepto o homem, todas as criaturas o são, porque ignoram a morte. O divino, o terrível, o incompreensível, é considerar-se imortal. " (Conto: O imortal")
   Não tanto pelas palavras difíceis. Utilizei algumas vezes o dicionário do Kindle mas, na maioria dos casos, não fará diferença você saber que a palavra X é um termo específico para uma das partes de um pilar, por exemplo. "O imortal" era um contos cujo mote já conhecia e mesmo assim não estava preparada para lê-lo. O estilo de narrativa de Borges é cheio de referências, reais ou fictícias e, principalmente, cheio de alegorias e temas que, para os não-iniciados em sua obra pode ser um pouco confuso de entender. 
   Depois desse primeiro conto, "O morto". Esse parecia ter uma linguagem mais simples mas, novamente, senti que estava perdendo algo. Foi então que resolvi parar a leitura e procurar conhecer um pouco mais sobre esse autor. Nessa minha busca meio preguiçosa (pelo celular) não encontrei muita coisa: li alguns textos em blogs, o artigo sobre Borges no Wikipédia e li bem por cima o livro "Borges em 90 minutos" do autor Paul Strathern. Esse último foi o menos útil, pois a maioria das histórias analisadas são do livro mais célebre do autor "Ficções" e não havia muito sobre "O Aleph". No entanto deu para ter uma ideia geral da biografia do autor e de seus temas, por assim dizer. 
   Foi através dessa pesquisa que descobri que Borges tem muitos temas que lhe caros (ou alegorias, como eu disse acima) e que ele cita frequentemente em suas obras: A biblioteca, O espelho, O duplo, o eterno retorno (conceito Nietzschiano) são apenas alguns desses exemplos. Os blogs me ajudaram a compreender esses temas recontes com mais profundidade e me fizeram ver que esse sentimento vago ao ler suas histórias não era sinal de que não as estava entendendo: os contos de Borges são eternos, seus temas universais - talvez uma reeleitura me mostre neles coisas que não tinha percebido da primeira vez.
" - Não multipliques os mistérios - disse - Estes devem ser simples. Lembra a carta roubada de Poe, lembra o quarto fechado de Zangwill.   - Ou complexos - replicou Dunraven. - Lembra o universo." (Conto: Abenjacan, o Bokari, morto em seu labirinto)

    
   Mais preparada, li o restante do livro sem grandes problemas, vez ou outra parando para pensar um pouco sobre um conto ou outro para tentar identificar qual tema Borges tinha utilizado nessa ou naquela história, ou apenas relendo algumas passagens. De todas as 20 histórias desse livro minhas favoritas são: "O Zahir", "Abenjacan, o Bokari, morto em seu labirinto", "A casa de Astérion" e "O homem no Umbral". No entanto, todas as histórias são muito interessantes, desde aquelas que se passam em lugares longínquos, até as narrativas passadas aqui nos pampas (em tempos: Borges retrata os brasileiros como uma espécie de selvagens). 


   Não cabe a mim analisar essas histórias, até porque não tenho nem o conhecimento necessário para entender todas as suas sutilezas. Mas, enquanto escrevia essa resenha, li que o ultimo conto, "O Aleph" (que também dá título ao livro) foi definido pelo autor da seguinte forma: "O que a eternidade é para o tempo, O Aleph é para o espaço". Quis compartilhar essa reflexão nessa 'resenha' para ilustrar a genialidade do autor: o primeiro conto fala sobre a imortalidade (tempo), o último fala sobre o Aleph, de onde se pode ver todo o mundo ao mesmo tempo (espaço). Com uma simples frase como essa pude perceber que esses dois contos, o primeiro e o ultimo, tem temas que conversam entre si, embora a história em si não seja nada igual uma do outro. 
   Enfim, já estou pensando em ler outras coisas do autor e recomendo Borges fortemente, para aqueles que querem se aventurar por sua prosa fantástica em todos os sentidos possíveis. A leitura pode dar trabalho em alguns momentos mas é muito recompensadora. 
   Se você for leiga como eu, dou uma dica: não tente capturar todas as referências que ele te dá, apenas o conceito central: a história em si, que é visível, e o tema/alegoria, esse nem sempre tão visível assim. 
   Nota 8 - um bom livro. (queria dar mais, mas preciso reler antes).

P.S.: Paulo Coelho deve ser um grande admirador de Borges. Dois de seus livros (O Zahir e O Aleph) "prestam homenagem" ao autor. Além disso, enquanto lia Borges descorrer sobre o tempo e o universo, lembrei de várias coisas que li em Coelho. 
P.S. 2: "OH, HERESIA! COMPAREI PAULO COELHO A BORGES!" - segurem os forninhos, estou falando de algumas das temáticas e da minha impressão como leitora leiga. A escrita de ambos não tem nem como comparar, são completamente diferentes. 


"My work always tried to unite the true with the beautiful; but when I had to choose one or the other, I usually chose the beautiful." -- Hermann Weyl Miss Carbono que é o numero 6 na tabela periodica

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