Onde a Luz Cai - Alisson e Owen Pataki

sexta-feira, outubro 26, 2018 0 Comments A+ a-


  Revolução francesa, uma época de mudanças sociais e filosóficas que mudariam não só a França mas também o mundo para todo sempre: depois que a plebe depôs seus Reis, nenhuma monarquia em todo mundo parecia segura. Como era época de conflito e profundas mudanças, nem tudo eram flores. Dickens, em Um conto de duas cidades já nos mostrava um pouco dessa nova sociedade: embora tivessem realmente alguma razão para se rebelar, a visão do autor era bem pessimista, alardeando principalmente as milhares de execuções que ocorreram naquele período em todo o país. A guilhotina parecia esfomeada por sangue - ou seria o povo?
   É nesse ambiente excitante e um pouco selvagem que Alisson e Owen Pataki se concentram para narrar a história de três personagens principais. O primeiro é Jean Luc, um advogado idealista que saiu do Sul da França junto com sua esposa Marie para trabalhar na "revolução" em Paris. Ele espera estar em contato com valores morais superiores (Liberdade, Igualdade, Fraternidade) mas, ao contrário, passa o dia fazendo o inventário do espólio que foi confiscado dos nobres.
   O segundo personagem principal é André, um oficial voluntário do exército francês. André se voluntariou a causa da revolução mais por não ter escolha do que por qualquer desejo de realmente ajudar: por ter sangue nobre, era isso ou ir para a guilhotina e encarar o mesmo destino que seu pai. A vida de André no exército parece estar começando a ficar menos tranquila, quando este se encontra e se apaixona por Sophie (a terceira protagonista) - a jovem viúva é sobrinha do general Murat e o homem não vai aceitar o enlace entre ela e Jean Luc de forma nenhuma.
   Ao longo de vários anos da revolução francesa, vamos acompanhando a trajetória desses personagens e suas reações perante os fatos históricos que se sucedem. A fidelidade histórica, porém, não é bem o fato aqui - o livro tem várias liberdades nesse sentido, deixando bem claro que o foco são os personagens, não a revolução francesa.
    A escrita, cheia de diálogos e ações, propícia uma leitura rápida e fluida. Não há muitos momentos de reflexão dos personagens e, mesmo quando há, eles não seriam tão difíceis de serem transportados para a tela caso esse livro fosse, por exemplo, adaptado para filme. A linguagem e algumas das cenas que ocorrem aqui me fizeram pensar nessa comparação entre o livro e uma obra cinematográfica. Um dos momentos que mais me chamou a atenção nesse sentido é justamente o final, quando os autores viram a necessidade de criar um embate direto (e físico) entre mocinhos e bandidos.
    Nada do que eu citei até aqui é necessariamente algo ruim, não fosse o fato de eu estar esperando outra coisa. Ano passado li A rainha branca da Phillipa Gregory e foi uma das melhores leituras daquele ano, um novelão da melhor qualidade, aliando história e a trama dos personagens de forma perfeita e emocionante. Ao contrário de Gregory, os irmãos Pataki preferem uma história mais seca, tanto em pesquisa história quando em motivações de personagens. Já estava tendo certa dificuldade com a história mas, do meio para final, ficou ainda mais complicado continuar. Há um momento chave no livro e, após ele, nada acontece. É como se a história tivesse chegado a um auge e os autores não soubessem o que fazer após isso.
   A solução encontrada para a ausência de propósito foi mandar um personagem para outro continente enquanto o restante continuava em Paris. O problema é que, após páginas e páginas de descrição de viagens e de protagonistas sofrendo na mão da "justiça", o livro termina sem muitos esclarecimentos, como se fosse só "derrotar o vilão" para tudo ser esquecido.      O livro não estava funcionando para mim desde o começo, quando pensei que as opiniões dos personagens sobre a revolução eram elitistas demais - parece que nenhum protagonista ver qualquer coisa de bom nos atos pós revolução, pelo contrário, um ou outro parece ter até mesmo saudade da Monarquia. Eu li Um conto de duas Cidades, que também não via a revolução com bons olhos, mas Dickens ainda conseguiu mostrar ao leitor que parte da revolta do povo tinha sim uma razão de ser. O mesmo não acontece nesse livro.    Me pareceu que os autores passaram muito tempo tentando encaixar pessoas ou lugares na história (hey, e se a gente citar a revolução americana aqui, quando na verdade seria impossível que os franceses sequer ligassem pra ela na época?) e pouco tempo pensando em como essa história desses personagens iria se desenrolar, na complexidade dos desafios que teriam diante de si etc.     
    Mesmo com todos esses poréns, indicaria para os que gostam de romances históricos com linguagem mais veloz, fáceis e rápidos de ler. É o tipo de livro que você pega para esquecer da vida - como eu queria que tivesse funcionado comigo mas não rolou. 
     Nota 7 - livro OK.    

  Livro cedido pela editora para resenha

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Nascida no interior de SP, formada em Publicidade e Propaganda, sempre gostou de dar palpites sobre filmes, séries, animes, livros e o que mais assistir/ler. Autora do Blog "Resenhas e Outras Cositas Más" (Miss Carbono) e "Coisas de Karol". No Twitter fala de política, séries e da vida (não necessariamente nessa ordem). Siga: @karolro


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