[Entrevista] Diogo Souza (autor de "Nêmesis - O retorno de Astarot")

quarta-feira, agosto 10, 2011 6 Comments A+ a-


     
Olá! 

      O entrevistado de hoje é o autor "Diogo Souza" que já escreveu 3 livros, incluido "Nêmesis - O retorno de Astarot", lançado pela Editora Dracaena.  Quero ler esse livro há um tempão e, por isso, resolvi entrevistar o autor para vocês conhecerem um pouco mais sobre ele. 
        Então, vamos começar? 


1.      Fale um pouco sobre você... Como/ Quando decidiu que iria ser escritor?


Bom, a resposta direta é que um dia eu estava conversando com um amigo com o qual eu jogo RPG, e ele me perguntou porque eu não escrevia um livro. A sugestão ficou comigo e foi o estopim para eu começar a escrever o “Fuga de Rigel”.

Mas não foi algo tão repentino assim. Na verdade, escrever livros era uma idéia que me acompanhava fazia tempo, e que eu vinha maturando há anos. Eu sempre gostei muito de ler, e mais ainda de contar histórias. Começar a escrever um livro f
oi um passo natural para mim, era algo que eu sempre quis, só não sabia disso antes.


2.          Por que escrever literatura fantástica?

Porque a fantasia é alegórica, ela nos apresenta um mundo em que as coisas não são apenas o que aparentam, mas significam algo maior, mais amplo. A fantasia é simbólica, e, por causa disso, fala muito mais diretamente ao nosso íntimo.

Quando você reveste uma história com a casca da fantasia, você retira dela uma barreira importante – a da descrença – e pode falar livremente sobre os anseios mais íntimos das pessoas. A fantasia abre a porta da imaginação, ela leva nosso coração pela mão e nos entrega o assombro, o inesperado, a magia, um mundo mais am
plo, mais encantador, e que, ao mesmo tempo, é em essência o mundo em que vivemos – internamente.


3.       Ainda não li seu novo livro (estou esperando chegar), mas li a sinopse de “Nêmesis” e o livro parece ser bem interessante. De onde surgiu a idéia de escrever sobre a família Masters e sobre o despertar do Demônio Astarot através de uma ginasta?

Bem no início, o cenário de “Nêmesis” era um cenário para jogos de RPG que eu havia desenvolvido e jogado com a minha turma. Não foi o meu melhor cenário, mas algumas das idéias ficaram na minha cabeça, e quando eu comecei a pensar em qual seria meu terceiro livro, resolvi resgatar o drama da família Masters, de Johnathan, Cris, Ariel, Isabela e Astarot.
 
Me agrada a forma como a magia é apresentada no livro. Nem muito óbvia que seja impossível acreditar que ninguém teria conhecimento dela, e nem muito sutil que as pessoas possam duvidar da sua existência. No cenário do livro, uma nuvem é mais do que uma nuvem: é um espírito do ar vivendo junto conosco. Uma sombra não é só a ausência de luz: é uma porta para um mundo paralelo, e as estrelas são o futuro e o passado escrito nos céus, mas lê-lo tem um preço muito alto.

A idéia de Isabela ser uma ginasta foi uma decorrência da personagem. Eu precisava de uma garota que tivesse uma fibra e dedicação acima do comum – e ninguém chega a ser campeão de ginástica sem uma determinação férrea. Ao mesmo tempo, a Isabela dá saltos acrobáticos, tem disposição para correr por horas, e foge a pé durante uma noite inteira. Para justificar um preparo físico desses, eu precisava de um esportista
 que estivesse em plena forma: daí ela ser ginasta.


4.       Você já tem 3 livros publicados. Qual é o seu favorito? E qual foi mais difícil de escrever?

Eu não tenho um “favorito”. Cada um foi um prazer à parte, e foi delicioso à sua maneira. Porém, o mais difícil de escrever foi o último, assim como eu espero que o livro mais difícil de escrever sempre seja o meu último.

Isso porque, conforme a gente treina, se aprimora, aprende, nossos padrões aumentam. Então, é natural que a gente se proponha a desafios cada vez maiores, mais difíceis, mais elaborados. Eu tenho tentado, em cada livro meu, escrever o melhor livro da minha vida, e isso sempre é difícil.


 "A fantasia é simbólica, e, por causa disso, fala muito mais diretamente ao nosso íntimo."



5.       Li uma entrevista sua em que você afirma ser um “escritor arquiteto”, pois planeja todos os personagens, lugares e ação antes de começar a escrever o livro. Alguma vez “fugiu” desse planejamento? Considera essa característica uma vantagem ou desvantagem sua como escritor?

Todos os livros que eu escrevi até agora, e inclusive o meu quarto livro, que estou escrevendo, foram planejados do começo ao fim antes de eu escrever a primeira linha. Mas... nunca se pode planejar tudo. O planejamento de um livro não é o livro em si. Ele é uma estrada, um mapa, mas sempre há mudanças de percurso.

Tanto em Abascanto quanto em Nêmesis, eu mudei o final do livro pouco antes de escrevê-lo. Já aconteceu de no meio caminho de um livro, eu voltar atrás e eliminar um personagem, ou colocar outro.

A Ariel, uma das protagonistas do Nêmesis, me surpreendeu em um capítulo que ela praticamente me forçou a escrever na primeira pessoa – eu não havia planejado isso.

Então eu sou um arquiteto ferrenho, mas sempre há o inesperado, e um livro invariavelmente reserva algumas surpresas para o s
eu escritor.




6.       Tem algum autor que te inspira? Aquele que você lê e pensa: “Nossa, queria escrever que nem ele...”?

Alguns. Não há UM autor que seja O meu modelo, mas há aspectos de autores que me encantam e que eu procuro emular.

 Clarice Lispector, por exemplo, que para mim é a melhor escritora da língua portuguesa. Isso não quer dizer que eu quero escrever exatamente como ela – porque ninguém escreve como ela, mas ela tem uma linguagem direta, um envolvimento com o mundo interno dos seus personagens, que é fascinante. Clarice apresenta os personagens como eles são, sem máscaras. Isso faz da sua uma literatura sincera, clara, de coração para coração.



Carlos Ruiz Zafón, autor dos renomados “A sombra do vento” e “O jogo do anjo”, que consegue misturar uma trama de ação, uma história de crescimento pessoal, momentos de interiorização e de ação com exímia temperança. A construção de personagens dele é excepcionalmente equilibrada.



Ursula K. Le Guin, que escreveu livros como o ciclo de Terramar, em que vemos, em uma história de fantasia medieval, um livro cujo foco é o drama interior do protagonista, algo raríssimo neste tipo de literatura, e mais raro ainda quando é trabalhado de forma tão suave e sensível como na mão dela.

 




7.       O que é mais fácil: Escrever ou publicar?
 
Escrever, sem dúvida. Escrever é um processo árduo, solitário, que exige dedicação, esforço e disciplina – mas, depende só de você. Publicar não depende só de você: depende de encontrar um editor que deseje apostar em você, ou de você arranjar grana para custear uma publicação própria. Publicar depende de você fazer seu marketing pessoal, de vender seu peixe para as pessoas, de saber valorizar seu produto e, ainda assim, sem garantias de ser bem sucedido, porque também depende de você estar no lugar certo, na hora certa, falar com a pessoa certa e dizer a coisa certa.

Devo dizer que publicar ainda é mais fácil que vender – mas essa não foi a pergunta, ce
rto?


"Escrever é um processo árduo, solitário, que exige dedicação, esforço e disciplina"


8.       Quais são seus livros favoritos?

Eu fiz, recentemente, uma lista dos meus 10 livros favoritos para uma outra entrevista que sei, mas de lá para cá, a coisa mudou um pouco. Hoje, está assim:

1º – A hora da estrela – Clarice Lispector.
2º – A sombra do vento – Carlos Ruiz Zafón.
3º – Um jogo de Tronos – George R. R. Martin.
4º – A série de “Terramar” – Ursula K. Le Guin.
5º – O caçador de Apóstolos – Leonel Caldela
6º – Toda a série de Harry Potter – J. K. Rowling.
7º – O senhor das moscas – William Golding (comentário da blogueira: Tem resenha desse livro aqui no blog)
8º – As crônicas de Amber – Roger Zelazny
9º – A trilogia de Thrawn – Timothy Zahn
10º – Jogos Vorazes – Suzanne Collins



9.       Deixe um recado para quem ainda está lutando para publicar, os escritores iniciantes.

A minha fórmula para o sucesso tem três ingredientes: Perseverança, Prazer, Estudo
. Isso quer dizer:

Perseverança: Que você não deve parar nunca. Desistir: jamais. Existe uma palavra para os escritores que não desistem: publicados. Continue escrevendo sempre, tudo o que você quiser. Se você escrever um livro e ninguém quiser ler, escreva outro. Se escrever quatro e todo mundo achar um lixo, escreva um quinto. Não desista. Persevere. As pessoas podem fazer críticas pelos mais diversos motivos, mas só você sabe, lá dentro, por que é que você escreve.

Prazer: Ficar sentado horas a fio escrevendo, dando forma a histórias com palavras, moldando uma sensação em imagens, isso te agrada? Isso te dá prazer? Existe o desejo de escrever pelo processo em si (e não pelo resultado)? Se sim: então você está perdido. Vai ter que escrever, porque esse desejo está queimando no seu coração. Esse é o prazer que alimenta, que nutre, e que vai ser seu único companheiro naquelas longas horas de trabalho solitário. Se você quer escrever porque deseja ser rico, reconhecido, aplaudido ou seguido: vá fazer oura coisa. Monte uma religião – é um jeito mais fácil de conseguir essas coisas. A escrita não vai te dar isso. O que a escrita oferece é o trabalho de criação, de exprimir um sentimento, de dar forma e imagem a um batimento do coração. Pergunte-se: eu tenho prazer na escrita?


Estudo: Não tem conversa: para ser bom, mas bom mesmo, todo mundo precisa de um estudo consistente, diligente, forte e permanente. É preciso ler tudo o que puder, é preciso criticar aquilo que se lê, é preciso fazer exercícios literários. Acima de tudo: é preciso saber ouvir as críticas que lhe são feitas, e extrair de cada uma o ponto de utilidade que poderá te ajudar a escrever melhor. Aquele que persevera e tem prazer precisa do estudo, porque ele é que te faz crescer.

Muito obrigada, Diogo, e um abraço dos leitores do blog. =)

***
Espero que tenham gostado da entrevista. Se alguém tiver alguma sugestão de autor para entrevista é só colocar nos comentários. Até a próxima! 

"My work always tried to unite the true with the beautiful; but when I had to choose one or the other, I usually chose the beautiful." -- Hermann Weyl Miss Carbono que é o numero 6 na tabela periodica

6 comentários

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Gabi Orlandin
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10 de agosto de 2011 às 08:54 delete

Gostei muito da entrevista, achei bem verdadeira e sincera. Adorei como ele descreveu o processo como a escrita foi se desenvolvendo nele. Ah, eu também responderia "Carlos Ruiz Zafón" nessa pergunta, porque ele é incrível.
Nunca li nenhum livro do Diogo, mas fiquei curiosa pelo Nêmesis.

Beijo.

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Teorias de Gi
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10 de agosto de 2011 às 10:34 delete

Nossa amei todas as respostas dele, foi sensacional eu amo escrever porem não sei escrever só escrevo o que vem na mente, queria melhorar, ele joga RPG, ajuda muito a fantasiar rsrsrsrsrsrsrs...concordo com ele em tudo sobre a fantasia...eu sempre acabo mergulhando nela pra fugir do mundo real...
E queria muito ler Nemesis :( sem money para comprar...
Entrevista nota 10 Beijussssss!

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10 de agosto de 2011 às 14:56 delete

Parabéns pela entrevista! Já li Fuga de Rigel do Diogo de Souza e curti bastante. Beijos!

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12 de agosto de 2011 às 00:16 delete

Adorei as respostas do autor. Gostei bastante da parte que ele fala sobre literatura fantástica e sobre a fórmula para o sucesso.
Quero muito ler Nêmesis.
Bjo

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Lu
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12 de agosto de 2011 às 10:36 delete

achei a entrevista bem legal.
Sou apaixonada pela capa do livro dele.
Ainda vou ler por curiosidade e espero gostar, pois achei o autor bem simpático. ^^

beijos.

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Unknown
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12 de agosto de 2011 às 23:35 delete

Nossa, adorei a entrevista, super completa *-*
O Diogo é muito simpático e escreve demais! Li Fuga de Rigel e me encantei com a história e a facilidade dele de criar aquela aventura eletrizante. Estou doida agora pra ler Nêmesis =D

Bjs,
Kel
www.itcultura.com

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