Viúvas (2018)
A vida de Veronica (Viola Davis), Linda (Michelle Rodriguez) e Alice (Elizabeth Debicki) muda de um dia para o outro com a morte de seus maridos em um assalto a banco mal sucedido. Nem todas tem um relacionamento perfeito mas isso não importa quando o homem de quem seus maridos roubaram, um criminoso conhecido, ameaça suas vidas para recuperar seu dinheiro de volta. Sem escolha, decidem executar um único assalto, afim de pagar a dívida e dar fim ao desamparo financeiro a qual foram deixadas.
Estava esperando uma história muito mais de ação do que de drama, por isso fiquei surpresa com a forte carga dramática de Viúvas. Mais que uma história sobre mulheres cometendo um assalto, o filme conta a história de mulheres que se encontram desamparadas. Seja porque o marido morreu roubando um criminoso, seja pela pobreza em que vivem, as quatro protagonistas do filme se encontram em um lugar de bastante fragilidade financeira ou emocional. É a partir dessa aparente fraqueza que vem a força para que elas planejem e executem um roubo - como a personagem de Viola Davis diz em determinado momento, "ninguém imaginaria que somos capazes", o que as torna perfeitas para fazer o serviço e conseguir sair-se impune.
Uma coisa que me chamou a atenção é que há tantos protagonistas quanto antagonistas negros nessa história. Um dos antagonistas mais terríveis, por exemplo, é Jatemme, interpretado por Daniel Kaluuya: um bandido completamente sem misericórdia que ouve discursos de inspiração (religiosos ou não) enquanto persegue pessoas. Seu irmão quer apenas ganhar a eleição e recuperar o dinheiro que o marido de Veronica roubou mas, Jatemme sabe que ela está planejando algo e quer se aproveitar disso.
A mensagem que o roteiro de Gillian Flynn parece querer nos passar é que, não importa qual a cor da pele, todas as mulheres podem sofrer nas mãos de homens. Como toda a história dessa autora, os homens aqui são os grandes vilões, desde o insensível Jatemme até o falso bom moço Jack Mulligan (Colin Farrel) - e, como toda história de Flynn, temos aqui um plot twist na metade da história que muda nossa percepção das coisas.
Se todos os homens são potenciais filhos da mãe isso quer dizer que todas as mulheres são vítimas? Muito pelo contrário. As mulheres da história prosperam mesmo com todas as adversidades. Destaque para Alice que evolui de vítima de abuso para mulher confiante durante o planejamento do assalto, quando decide que não vai ser tratada como um capacho por ninguém, nem mesmo Verônica.
Falando da personagem maravilhosamente vivida por Viola Davis, temos aqui uma mulher arrasada pelo luto. No começo pensamos que a depressão e tristeza era devido apenas a morte de seu marido Harry (Liam Neelson) mas depois percebemos que é muito mais do que isso. Algumas partes da biografia de Verônica lembram um pouco a trajetória de Annelise Keating em How to Get Away with Murder mas Verônica é muito menos rígida que Annelise e Viola Davis consegue interpretar essas duas mulheres em muitos aspectos tão parecidas de forma diferente.
Viúvas é um forte candidato para o Oscar do próximo ano, tanto pelo filme quanto pelo elenco que está com uma atuação excelente. Não é um filme fácil de ser assistido, sente-se cada uma das suas duas horas e nove minutos, porque é tudo muito carregado e complexo. O final não é exatamente aberto mas fiquei pensando nesse filme e em seus complexos personagens muito tempo depois de ter visto. Ainda estou dividida sobre esse filme em muitos detalhes mas já recomendo - desde que você tenha ciência de que tem mais dramas e cenas em flashback do que a ação propriamente anunciada.
Nota 8,5 - muito bom.
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