Leah fora de sintonia - Becky Albertalli

sexta-feira, novembro 30, 2018 0 Comments A+ a-


   É o último ano do ensino médio, últimos meses antes de Leah sair da casa da mãe e ir fazer faculdade na Geórgia. Seus amigos, Simon, Nick, Morgan e Anna, entre outros estão todos lamentando o fim dos seus dias de união e  Leah parece estar um pouco distante de tudo isso. Não é que ela não vá se sentir falta deles ou que ela não se importe com o que vai acontecer, mas é só que ela se sente acompanhando tudo isso a distância e, ao mesmo tempo, sente esse incômodo dentro de si, a sensação de que algo não está certo em sua vida.

"As vezes eu me sinto deixada de lado até quando a vida continua junto comigo."
   Leah fora de sintonia é a continuação de Simon e a agenda homo sapiens (ou Love, Simon), desta vez com uma história sobre uma das personagens mais misteriosas do primeiro livro. No primeiro livro Simon chega a pensar que era muito difícil conversar com Leah, porque parecia haver sempre um subtexto ali, algo que ele não conseguia entender ou perceber. Dessa vez nos temos acesso só que se passou na cabeça da personagem, o que é muito legal e, por vezes, surpreendente.
   Leah é o tipo de garota que se considera durma e fria, "uma Sonserina", como ela pensa em si na maioria das vezes. Mas, nesse período que o livro se passa, vemos uma rachadura nesse pose de durona e ela se mostra através de duas relações: de Leah com Garrett, que é meio apaixonado por ela desde o primeiro livro e de Leah com Abby.
  Pois é, Leah e Abby. Eu admito que cantei essa bola desde que assisti Love, Simon mas, quando cheguei ao final do primeiro livro, tive minhas dúvidas. Talvez eu só tivesse lendo demais no relacionamento das duas, talvez Leah só estivesse mesmo apaixonada por Nick.    Ou talvez não. Porque, nesse livro, percebemos toda uma situação que ocorria no primeiro livro e Simon nem reparou. Leah é Abby eram melhores amigas mas algo aconteceu e elas foram se distanciando, depois Abby começou a namorar Nick e as coisas ficaram bem estranhas.

"Essa deve ser a melhor parte de estar apaixonado - a sensação de ter um lar na mente de outra pessoa."
   Ao longo da história é complicado decidir se Abby é um ex-amor ou um amor atual pra Leah. Mesmo a personagem narrando tudo em primeira pessoa; é como se Leah estivesse enganando até mesmo a si mesma, tentando desenvolver algo por Garrett e falhando miseravelmente vez após vez.  Como leitura isso me deixou bastante em dúvida até mais ou menos a metade do livro - quem é cannon aqui Abby ou Garrett? - mas depois as coisas desenrolam e a gente vê que muito dessa confusão mental que Leah vem sentindo tem haver com os sentimentos que ela tem desenvolvido por Abby ao longo desse 1 ano e meio.
    Uma coisa legal desses livros serem em primeira pessoa é que a mudança de ponto de vista parece até mudar o personagem. A Abby que Leah vê é muito diferente da que Simon enxergava no primeiro livro - muito mais perfeita e baladeira do que nos foi mostrado em outra história. Talvez um pouco idealizada, porque Leah joga tantas qualidades em Abby que a considera perfeitinha e inacessível - além de, obviamente, hetero.
    É só quando o namoro de Abby e Nick começa a ir mal e quando as duas resolvem conhecer a faculdade que estudarão juntas é que as coisas começam a ficar mais claras na história. Leah, por exemplo, apesar de se considerar bissexual desde os 11 anos, nunca contou o fato pra ninguém além de sua mãe. Como ela esperava que Abby agisse de forma diferente da que agiu?      
   Enfim, esse livro tem bastante daquela angústia adolescente e dramas, o que me fez grudar na história e ler tudo em uns 2 dias. Chegou determinado ponto que eu cheguei a conclusão de que, se Leah não terminasse com ninguém mas procurasse um psicólogo, o final do livro seria feliz. Porque é óbvio que, por trás daquela pose marreta e auto suficiente, Leah tem problemas sérios de auto estima e aceitação. Pra não dizer um perfeccionismo que beira a auto sabotagem - do tipo que te impede de fazer qualquer coisa se não tiver certeza de que vai sair tudo perfeito.

"Como se já não fosse ruim o bastante eu estar sempre a um sopro de desmoronar, tenho que fazer isso sob a luz de um holofote? Não dá."
   Mas o amor resolve tudo e, bem, temos aqui nosso final feliz. Acho que, por ter personagens presentes na história e não apenas por mensagens como foi com Blue e Simon e por essa dúvida que tive durante toda a história se ia dar certo ou não, preferi a leitura de Leah fora de sintonia a leitura de Simon vs homo sapiens agenda. De um modo geral, essa semana que passei lendo Becky Albertalli foi bem divertida, fazia tempo que eu não me divertia lendo YA.
   Recomendo essa duologia para os que querem romance adolescente com a mistura certa de slice of life, romance, comédia e drama. A representação das minorias é muito bem feita - temos bons personagens negros, gordos e LGBT - e a autora escreve bem (embora com algumas ressalvas), Leah e Abby são um casal muito muito fofo.

"Ela me faz querer rasgar meu peito e arrancar meu coração"
  Nota 8,5 - o livro é muito bom mas tirei por causa de alguns detalhes da história que me deixaram um pouco confusa. 

Nascida no interior de SP, formada em Publicidade e Propaganda, sempre gostou de dar palpites sobre filmes, séries, animes, livros e o que mais assistir/ler. Autora do Blog "Resenhas e Outras Cositas Más" (Miss Carbono) e "Coisas de Karol". No Twitter fala de política, séries e da vida (não necessariamente nessa ordem). Siga: @karolro


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