Trama Fantasma (Review) #Oscar2018

sexta-feira, março 02, 2018 0 Comments A+ a-


   Reynolds Woodcock é um renomado estilista na década de 50, mas, como os típicos gênios, Reynolds se interessa por poucas coisas além do seu trabalho, deixando todos os aspectos práticos da sua vida nas mãos de sua irmã (?) Cyril. É a Cyril que cabe, por exemplo, dispensar a amante de Reynolds enquanto este faz uma viagem ao interior.
    É nessa viagem ao interior que Reynolds e Alma se conhecem. A moça não é nenhuma beldade mas chama a atenção do estilista e ele a convida para sair logo na primeira vez em que os dois se veem.
  “Trama Fantasma” (Phantom Thread) é um filme escrito, produzido e dirigido por Paul Thomas Anderson. É também, provavelmente, o último filme da carreira de Daniel Day-Lewis, um dos maiores atores de sua geração (talvez o maior). É natural, portanto, que haja uma expectativa com relação ao filme, tendo Lewis e Anderson já mostrado a força dessa parceria em “Sangue Negro”.
   Sabe quando você começa um filme sem saber exatamente o que esperar? Foi o que aconteceu comigo. Afora essa sinopse bem básica e uma piadinha ou outra do twitter, pouco sabia sobre “Trama Fantasma”. Acho que um dos motivos para certa ausência de comentários a respeito dele se deve ao fato de que muito pouco se pode dizer sobre esse filme sem que se revele momentos chave da trama. Por esse motivo, vou tentar escrever essa resenha sem nenhum spoiler mas já prevejo dificuldades.


    O relacionamento de Alma e Reynolds evolui rápido e a moça passa a morar e trabalhar com ele, tanto como modelo quanto na costura. Reynolds nunca é fácil e muitas vezes é até mesmo rude, mas Alma tem bastante paciência. Sua atitude fácil e sorridente muitas vezes contrasta com o jeito carrancudo do estilista.
    A história desse casal é contada por Alma a um ouvinte invisível, como se ela estivesse relembrando do relacionamento. Por esse motivo há algumas cenas de alma no presente (contando a história) e outras no passado, vivendo seu relacionamento com Reynolds. Em determinado ponto a trama alcança e ultrapassa a narrativa de Alma – li em algum lugar a comparação dessas idas e vindas com uma costura e achei bem apropriado.
   Essas idas e vindas não tornam “Trama Fantasma” difícil, é tudo muito bem marcado pelo diretor, o que está ocorrendo como uma lembrança e o que são cenas do presente, narradas por Alma. Só no desfecho, quando se revela finalmente para quem Alma está contando a história e o que acontece depois, é que as coisas ficam um pouco mais complicadas. Me pergunto se entendi aquele final, talvez tenha que assistir de novo.
  Esse é um Oscar romântico, com dois filmes que contam histórias de relacionamentos amorosos concorrendo na categoria de melhor filme (‘A forma da água’ e ‘Me chame pelo seu nome’). Engana-se, porém, quem coloca “Trama Fantasma” na mesma categoria que esses dois filmes. Não se trata aqui de um relacionamento de amor mas sim de uma versão patológica desse. O relacionamento pode ser o centro dessa história mostra um estudo interessante da psicologia dos personagens, tanto como um casal como individualmente. Embora muita pouca seja dita (literalmente, é um filme de longos silêncios) muita coisa pode ser adivinhada ou subentendida.


   No final, quando a trama finalmente mostra a que veio, foi impossível não ficar impactada. Ao final do filme continuei pensando na história e no que significava tudo aquilo – continuo pensando até agora na verdade. Pensei que o título do filme pudesse trazer alguma resposta mas sigo sem saber o que seria uma “Trama Fantasma”. Se alguém puder me ajudar com essa, agradeço.
    Um dos méritos de Anderson, ao criar essa história com personagens dúbios e cheios de camadas é não criar qualquer juízo de valor sobre seu comportamento. As pessoas nesse filme são o que são e nem mesmo os personagens no próprio filme se questionam a respeito de seu modo de ser. Uma cena que ilustra bem isso ocorre no inicio, quando Alma conhece Reynolds: no meio do encontro dos dois, Reynolds sugere que Alma tire o vestido pois quer criar uma roupa para ela e precisa tirar medidas. Alma aparece seminua e, de repente, Cyril entra na sala, troca algumas palavras, senta-se e começa a anotar as medidas sem que Alma questione em nenhum momento, o que aquela mulher está fazendo ali. É óbvio que a situação é desconfortável para ela, mas não há confronto. O filme tem muitos momentos assim.


     O que mais posso dizer? Escrevi esse post para colocar alguns pensamentos no papel mas pretendo assistir novamente ao filme com mais calma, depois dessa loucura do Oscar. Há algumas coisas que quero observar nesse segundo momento, uma delas é se o filme é tão bom quanto me pareceu.
   Reconheço que pouquíssima coisa acontece nesse filme mas, ao menos para mim, ele nunca ficou entediante. Há sempre uma frase não concluída, uma pausa cheia de significados. A trilha sonora, desconfortável e estranha, reforça a sensação de que há mais ali do que de fato está sendo mostrado. Chega a ser desagradável em alguns momentos esse contraste entre a música e a cena, mas creio que foi proposital.
   Indico para os que gostam de histórias com boas interpretações e personagens complexos e para os que não se sentem intimidados com histórias mais lentas ou relacionamentos mutuamente abusivos em tela.
Por ora dei nota 8,5 – bom filme e o meio ponto é pelo desfecho.


|TRAILER|

Nascida no interior de SP, formada em Publicidade e Propaganda, sempre gostou de dar palpites sobre filmes, séries, animes, livros e o que mais assistir/ler. Autora do Blog "Resenhas e Outras Cositas Más" (Miss Carbono) e "Coisas de Karol". No Twitter fala de política, séries e da vida (não necessariamente nessa ordem). Siga: @karolro


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