Trama Fantasma (Review) #Oscar2018
Reynolds Woodcock é um renomado
estilista na década de 50, mas, como os tÃpicos gênios, Reynolds se interessa
por poucas coisas além do seu trabalho, deixando todos os aspectos práticos da
sua vida nas mãos de sua irmã (?) Cyril.
É a Cyril que cabe, por exemplo, dispensar a amante de Reynolds enquanto este
faz uma viagem ao interior.
É nessa viagem ao interior que Reynolds e Alma se conhecem. A moça não é nenhuma
beldade mas chama a atenção do estilista e ele a convida para sair logo na
primeira vez em que os dois se veem.
“Trama Fantasma” (Phantom Thread) é
um filme escrito, produzido e dirigido por Paul Thomas Anderson. É também,
provavelmente, o último filme da carreira de Daniel Day-Lewis, um dos maiores
atores de sua geração (talvez o maior). É natural, portanto, que haja uma
expectativa com relação ao filme, tendo Lewis e Anderson já mostrado a força
dessa parceria em “Sangue Negro”.
Sabe quando você começa um filme sem saber
exatamente o que esperar? Foi o que aconteceu comigo. Afora essa sinopse bem
básica e uma piadinha ou outra do twitter, pouco sabia sobre “Trama Fantasma”.
Acho que um dos motivos para certa ausência de comentários a respeito dele se
deve ao fato de que muito pouco se pode
dizer sobre esse filme sem que se revele momentos chave da trama. Por esse
motivo, vou tentar escrever essa resenha sem nenhum spoiler mas já prevejo
dificuldades.
O relacionamento de Alma e Reynolds evolui
rápido e a moça passa a morar e trabalhar com ele, tanto como modelo quanto na
costura. Reynolds nunca é fácil e muitas vezes é até mesmo rude, mas Alma tem
bastante paciência. Sua atitude fácil e sorridente muitas vezes contrasta com o
jeito carrancudo do estilista.
A história desse casal é contada por Alma a
um ouvinte invisÃvel, como se ela estivesse relembrando do relacionamento. Por
esse motivo há algumas cenas de alma no presente (contando a história) e outras
no passado, vivendo seu relacionamento com Reynolds. Em determinado ponto a
trama alcança e ultrapassa a narrativa de Alma – li em algum lugar a comparação
dessas idas e vindas com uma costura
e achei bem apropriado.
Essas idas e vindas não tornam “Trama
Fantasma” difÃcil, é tudo muito bem marcado pelo diretor, o que está ocorrendo
como uma lembrança e o que são cenas do presente, narradas por Alma. Só no
desfecho, quando se revela finalmente para quem Alma está contando a história e
o que acontece depois, é que as coisas ficam um pouco mais complicadas. Me
pergunto se entendi aquele final, talvez tenha que assistir de novo.
Esse é um Oscar romântico, com dois filmes
que contam histórias de relacionamentos amorosos concorrendo na categoria de
melhor filme (‘A forma da água’ e ‘Me chame pelo seu nome’). Engana-se, porém,
quem coloca “Trama Fantasma” na mesma categoria que esses dois filmes. Não se trata aqui de um relacionamento de
amor mas sim de uma versão patológica desse. O relacionamento pode ser o
centro dessa história mostra um estudo interessante da psicologia dos
personagens, tanto como um casal como individualmente. Embora muita pouca seja
dita (literalmente, é um filme de longos silêncios) muita
coisa pode ser adivinhada ou subentendida.
No final, quando a trama finalmente mostra a
que veio, foi impossÃvel não ficar impactada. Ao final do filme continuei
pensando na história e no que significava tudo aquilo – continuo pensando até
agora na verdade. Pensei que o tÃtulo do filme pudesse trazer alguma resposta
mas sigo sem saber o que seria uma “Trama Fantasma”. Se alguém puder me ajudar
com essa, agradeço.
Um dos méritos de Anderson, ao criar essa
história com personagens dúbios e cheios de camadas é não criar qualquer juÃzo de valor sobre seu comportamento. As
pessoas nesse filme são o que são e nem mesmo os personagens no próprio filme
se questionam a respeito de seu modo de ser. Uma cena que ilustra bem isso
ocorre no inicio, quando Alma conhece Reynolds: no meio do encontro dos dois,
Reynolds sugere que Alma tire o vestido pois quer criar uma roupa para ela e
precisa tirar medidas. Alma aparece seminua e, de repente, Cyril entra na sala,
troca algumas palavras, senta-se e começa a anotar as medidas sem que Alma
questione em nenhum momento, o que aquela mulher está fazendo ali. É óbvio que
a situação é desconfortável para ela, mas não
há confronto. O filme tem muitos momentos assim.
O que mais posso dizer? Escrevi esse post
para colocar alguns pensamentos no papel mas pretendo assistir novamente ao
filme com mais calma, depois dessa loucura do Oscar. Há algumas coisas que
quero observar nesse segundo momento, uma delas é se o filme é tão bom quanto
me pareceu.
Reconheço que pouquÃssima coisa acontece nesse filme mas, ao menos para
mim, ele nunca ficou entediante.
Há sempre uma frase não concluÃda, uma pausa cheia de significados. A trilha
sonora, desconfortável e estranha, reforça a sensação de que há mais ali do que
de fato está sendo mostrado. Chega a ser desagradável em alguns momentos esse
contraste entre a música e a cena, mas creio que foi proposital.
Indico para os que gostam de histórias com
boas interpretações e personagens complexos e para os que não se sentem
intimidados com histórias mais lentas ou relacionamentos mutuamente abusivos em
tela.
Por
ora dei nota 8,5 – bom filme e o meio ponto é pelo desfecho.
Olá, seja bem-vindo!
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