O silêncio da chuva - Luiz Alfredo Garcia Roza
O Detetive Espinosa tem de investigar um mistério de um homem que leva um tiro na cabeça dentro de uma garagem. Como detetive lotado na delegacia de Mauá, no Rio de Janeiro, o mesmo não possui muitos recursos, além de sua imaginação para traçar cenários do que ocorreu ali.
A primeira coisa que me chamou a atenção nesse livro, além da ambientação interessante do Rio de Janeiro, seus subúrbios e lugares, é a época em que essa história foi escrita, 1998. Daí se pode observar que celulares, no período, era uma raridade inacreditável e que muitos recursos modernos, como exames de DNA, seriam impossíveis de ser realizados, ainda mais com uma história se passando no Brasil.
Esse ar retrô da trama seria interessante se essa não fosse uma história que poderia ser facilmente resolvida se houvesse um sistema de câmeras no local do crime. Isso me deixou muito encucada durante a primeira metade da história mas então as coisas foram evoluindo para outro lado.
Quando 2 pessoas desaparecem e mais uma é encontrada morta a trama parece que finalmente engata. Teorias começam a ser formadas e descartadas, tanto pelo detetive quanto pelo leitor. Ao mesmo tempo em que busca o culpado, ainda acompanhamos a atração que Espinosa sente não por uma, mas por duas mulheres ligadas ao caso.
Eu não tinha muito informação sobre esse livro mas, assim que acabei, vi na biografia do autor que "O silêncio da chuva" ganhou um prêmio Jabuti. Minha primeira reação foi perguntar "Por quê?" e essa resenha é também um exercício para tentar entender os motivos.
Encontrar algo nessa trama que mereça prêmios é uma tarefa tão difícil quanto foi para Espinosa encontrar o responsável por todos os desaparecimentos e mortes. Uma história cheia de buracos e falhas que, apesar de rápida, tem foi um sacrifício de ler. Na primeira metade, não temos mistério algum, tudo é escancarado para o leitor e somente para ele, que infelizmente continua a assistir Espinosa patinar em suas deduções. Já a segunda parte tem a identidade do culpado tão óbvia que, para inovar, o autor apelou para uma das cenas mais absurdas que já vi na literatura. Eu ri com aquele final porque a alternativa seria jogar o Kindle na parede e eu ainda não estou rica para poder cometer esse tipo de loucura.
Como é que alguém dá um prêmio para uma história fraca, inverossímil e cheia de problemas como essa? A única explicação que me é possível é terem encarado todos esses absurdos como algo proposital do autor. Somente partindo desse princípio eu consigo entender o prêmio Jabuti dado - consigo até mesmo imaginar uma porrada de intelectuais escrevendo longas justificativas para ele com um sorrisinho no rosto.
Nessa não-trama policial os elementos dos romances dos gênero são todos pervertidos. O Detetive é um anti-detetive, alguém que apenas comete erros, do início ao fim da história. Espinosa está mais interessado em chops, mulheres e nos seus tão amados livros do que em realizar qualquer trabalho investigativo sério. Ele passa o livro todo seguindo de um palpite ao outro até que as soluções praticamente caem em seu colo.
O assassino é resolvido por pura sorte e, o final é o que chamaria de anti-climático, não fosse a ironia de assim o fazer. Se temos um não-detetive investigando uma história em que praticamente todas as convenções do gênero dão errado de alguma forma, não é surpresa que sequer no final algo daria certo. O confronto com o assassino acontece entre outros personagens e, enquanto isso, Espinosa dorme.
A genialidade de criar uma história que foge o cliché deve ter sido escrita e reescrita tanto pelas pessoas que acharam que esse livro merece um Jabuti quanto pelos que resenharam essa obra ao longo dos anos.
De minha parte, como leitora leiga que começou essa história inocentemente esperando um romance policial digno só tenho a lamentar o meu tempo perdido. Infelizmente não foi dessa vez que consegui ler algo bom desse gênero, fato que ocorreu comigo bastante em 2017.
Como estava na expectativa de um tipo de história e fui recebida por algo completamente diferente e menos agradável, não posso indicar esse livro a ninguém. Espinosa é um personagem interessante quando se para pra pensar sobre ele mas não vale a pena ler sátira de romance policial quando há tão outros realmente bons por aí.
Nota 6 - não gostei e não recomendo. Acho que o livro tem que ser bom por si só e esse não é o caso de "O silêncio da chuva".
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