No mar - Toine Henjmans (Resenha)

sexta-feira, novembro 24, 2017 0 Comments A+ a-


Logo nos primeiros momentos dá pra ver que o protagonista não está em seu juízo normal: confrontado com uma tempestade, o personagem se vê cercados de faróis que o ajudariam a chegar em terra firme mas decide esperar que ela passe no mar. "Não, não... Ainda não". Responde o homem quando lhe oferecem ajuda pra levá-lo a terra firme.
  Mas por que o mar seria mais seguro? O protagonista vê esses momentos no veleiro, com a filha de sete anos, como um idílio do qual não quer sair tão cedo. A solidão do mar parece atraí-lo, mesmo após horas de viagem. Mesmo não tendo conseguido dormir durante todo esse tempo. "Por mais que um barco chacoalhe, é sempre mais tranquilo que estar em casa"Então ele avisa que vai esperar a tempestade passar ali mesmo no mar. E vai ver a filha, que está dormindo num quartinho na popa. Mas a filha não está lá.  

  O livro tem uma narrativa bem lenta, até mesmo um pouco triste ou filosófica. As frases do narrador/protagonista não são simples e um pouco curtas, embora cheias de reflexões sobre a vida, retiradas como metáforas para as coisas que ele vê no mar. O narrador da história não tem nome em boa parte do livro mas sabemos que a a filha se chama Maria e sua esposa, que espera os dois na Holanda ao fim da viagem, se chama Hagar. O barco, onde pai e filha navegam pelo Mar do Norte, se chama Ishmael
 Uma coisa sobre o nome do barco, que eu já tinha percebido mas que o narrador faz questão de ressaltar durante a leitura, é que Ishmael é nome do protagonista de Moby Dick. O narrador diz que usa esse nome para embarcação pois Ishmael é aquele que sobrevive a tudo, mas considero isso um nome bem menos auspicioso. Ishmael também é o personagem que destruiu um barco e quase que a si próprio por conta da loucura e obsessão
 Quando volta ao presente, ao desaparecimento da filha, essa linguagem simples fica mais frenética, como se o narrador estivesse lutando contra um pânico crescente enquanto procura a filha por todo barco. É uma virada interessante no texto, quase como se o leitor estivesse também enfrentando algum tipo de tempestade; uma hora está tudo calmo e na outra não mais
 Como todo narrador em primeira pessoa, esse também não parece muito confiável. Primeiro fala que ficou dois dias sem dormir. Depois, narra os cochilo que deu. Depois volta a falar sobre as noites em que não pregou o olho e do quanto estava alerta e desperto. Mas será que ele ficou acordado esse tempo inteiro? Não dá pra ter certeza. Algumas falhas que ele comete ao longo da trama parecem devido ao cansaço, outras são simplesmente absurdas. Porque não esperar a tempestade em algum porto? Porque não pedir socorro imediatamente quando percebe que a filha sumiu? São questionamentos não respondidos. 
   "No mar" é um livro bem curtinho, daqueles escritos para serem lidos de uma vez, do começo ao fim. Li em três dias e talvez isso tenha prejudicado minha experiência, talvez não. Quem lê essa história de uma vez está muito mais propenso a embarcar no desespero que o pai/capitão sente ao se ver sem a filha em um barco em alto-mar. Isso não significa que eu não pude ter essa sensação - mas vejo que fragmentar a história fez com que tudo ficasse um pouco mais leve e digerível. "Se eu pensar por tempo suficiente que não aconteceu, então não terá acontecido" 
   O desfecho é interessante. Mesmo não sendo algo exatamente inédito, gostei da forma como a narrativa do autor me fez lembrar e depois esquecer dessa possibilidade. Além disso, gosto dessas histórias que se passam no mar e essa não foi diferente. De quebra ainda conheci um autor holandês (acho que é o primeiro que leio). 

   Recomendo para os que gostam de tramas mais psicológicas, focadas em um único personagem.   
     Nota 8 - um bom livro.

Nascida no interior de SP, formada em Publicidade e Propaganda, sempre gostou de dar palpites sobre filmes, séries, animes, livros e o que mais assistir/ler. Autora do Blog "Resenhas e Outras Cositas Más" (Miss Carbono) e "Coisas de Karol". No Twitter fala de política, séries e da vida (não necessariamente nessa ordem). Siga: @karolro


Olá, seja bem-vindo!

Pode falar o que quiser do filme, livro ou texto - só peço que tome cuidado para não ofender os outros leitores do blog. Nada contra palavrões mas também não vamos exagerar, ok?

Obrigada!