Antes do baile verde - Lygia Fagundes Telles (Resenha)
Acho que foi Tchekhov que disse que um bom conto é aquele em que corta-se o inÃcio e o final. Lendo os contos desse livro foi essa sensação que tive, que a história começou antes de ser narrada pela escritora e, quando concluÃda, ainda ocorreu algo depois. Longe de trazer confusão ou serem histórias pouco claras, a questão aqui é aquela sensação que se tem, ao terminar um conto, de que a história é muito maior do que aquilo que está sendo narrado. Os bons contos tem em comum a capacidade de te fazer se sentir dessa forma.
Ou "Antes do baile verde" é uma releitura de um livro lido há muito tempo atrás ou esses contos já estavam no meu subconsciente porque as histórias parecem novas e, ao mesmo tempo, bem familiares. Cheguei até mesmo a lembrar do desfecho de algumas delas. Releitura ou não, fazia um tempo em que um livro não me dava tanto prazer ao lê-lo. Sabe aquela coisa de ficar ansiosa para pegar o livro e realmente se divertir lendo alguma coisa? Foi o que senti ao ler "Antes do Baile Verde". Alguns livros a gente tem que se forçar a prosseguir ou a pegar para ler, mas esse não foi esforço nenhum e a leitura fluiu muito bem e muito rapidamente.
Ironicamente, embora esse seja o segundo livro de contos da autora que leia e tenha gostado muito de ambos, o único romance da autora que tentei ler, chamado "As meninas", foi abandonado lá pela página 60. Em minha defesa, eu tinha uns 15 anos quando tentei ler esse livro e a história não conseguiu me pegar. Posso estar falando groselha mas acho que o livro também tinha o tão temido "fluxo de consciência", o que também não facilitou em nada a leitura. Aindo preciso me redimir e ler algum romance dessa autora mas o trauma permanece, mesmo após 10 anos da minha tentativa com "As meninas".
Mas, voltando à "Antes do Baile Verde", o que todos esses contos tem em comum? Pequenas coisas, como a cor verde que aparece no tÃtulo e vez ou outra também em um vestido, um objeto, na cor do rio... Há também o fato da maioria se passar na intimidade - há sempre poucos personagens, dois na maioria das vezes, conversando em locais privados. Um quarto, um cinema, uma sala, um barco quase vazio na véspera de Natal. Os espaços grandiosos não são utilizados nesses contos, talvez por serem esses espaços menores os mais propÃcios para o desenvolvimento sutil que ela dá à s tramas.
Recomendo "Antes do Baile Verde" para os que gostam de contos e querem ver o melhor daquela que, ao meu ver, é uma das melhores contistas que já li. Nota 9,5 - por que é muito bom mas o 10 é só para os favoritos.
Impressões sobre alguns dos contos do livro
"Helga": o desfecho mais surpreendente, ao lado de "Venha ver o pôr do Sol".
"A chave": o final foi meio confuso pra mim mas, se pudesse resumir toda a história em uma palavra seria "Carma".
"A janela": louco é quem não para e sente o cheiro das rosas (reais ou não). Conto "O jardim selvagem": por algum motivo esse conto me lembrou do livro "Rebeca" mas acho que a única coisa que ambos tem em comum é a personagem feminina misteriosa. Mesmo assim, gostei.
"Venha ver o pôr do sol": esse com certeza já li várias vezes. A cada releitura, a mesma sensação, de que é uma das melhores (e mais assustadoras) histórias que já li.
"Eu era mudo e só": o desespero de um 'felizes para sempre'
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