A Redoma de Vidro - Sylvia Plath (Resenha)
Esther Greenwood é uma jovem que parece estar no momento mais feliz de sua vida: aos 19 anos, cursando a faculdade de seus sonhos, em Nova York apps ganhar um concurso, estagiando em uma revista de moda. Ela passa seus dias de maneira glamurosa, assistindo a desfiles, comendo caviar, em encontros com belos homens. Mas, ao invés de exaltante, Esther se sente entorpecida.
"Me sentia muito calma e muito vazia, do jeito que o olho de um tornado deve se sentir, movendo-se pacatamente em meio ao turbilhão que o rodeia."
Saber que o único romance de Sylvia Plath foi publicado algumas semanas antes de sua morte e que esse livro tem diversos elementos autobiográficos já é algo pesado. A trama também acrescenta certo peso, pois vemos uma jovem, que aparentemente tinha tudo, entrar em um nÃvel de apatia tão grande que começa a perder tudo, o que a deixa ainda mais depressiva. E isso vai crescendo tanto que acaba atingindo um pouco quem lê também.
Este é um livro curto, mas muito bem escrito. Sylvia Plath, enquanto poeta, sabe utilizar muito bem as palavras e isso está presente nesse texto. Entendo porque esse livro tenha causado impacto quando foi publicado, na década de 60 e ainda hoje - além da já citada escrita excelente, temos uma trama sobre doença mental narrada sob o ponto de vista de uma doente mental. Não sei muito sobre a história da psicologia mas acredito que, na década de 60, doenças como a depressão ainda eram um tabu.
"Para a pessoa dentro da redoma de vidro, vazia e imóvel como um bebê morto, o mundo inteiro é um sonho ruim".
Como personagem principal é narradora da história o ponto de vista de Esther é tudo o que vemos e, ao mesmo tempo em que se sente pena e tristeza pelo destino da personagem, também podemos captar algumas facetas menos atrativas de sua personalidade. Esther é uma moça um tanto fútil e desapegada dos seus familiares; ela também é um tanto racista e homofóbica.
Essas partes menos atraentes da protagonista, ao contrário de afastarem o leitor, o aproxima. Esther é fruto da sua geração e, de certa forma, a sociedade opressiva que a gerou acaba por deixá-la doente. O constante dilema de escolher entre algum caminho na vida - casar e ter filhos ou optar pela carreira - é algo demais para a protagonista e, como vemos, para outras moças que ela acaba conhecendo, que estão na mesma situação de Esther.
Sobre a conclusão, percebi um esforço da autora em terminar essas páginas numa nota mais positiva. O suicÃdio de Plath, posterior a publicação de A Redoma de Vidro, talvez seja a razão para que essa mostra de algum tipo de superação termine de forma aberta, com a protagonista prestes a entrar numa sala. Talvez a própria autora não fosse capaz de escrever um desfecho positivo Esther estando ela tão longe de seu próprio final feliz. Cabe ao leitor imaginar o que ocorre com a protagonista depois, se o mesmo que ocorreu com a autora, ou se algo mais positivo.
Embora não seja uma leitura fácil, acho que esse livro deveria ser mais lido e discutido. A Redoma de Vidro é um retrato sobre as pressões com a qual uma mulher da década de 60 tinha que conviver mas, acima disso, também é uma relato realista da mente de uma pessoa depressiva e a apatia geral que se sente nessa situação - daà o nome, já que a personagem diz sentir que há uma Redoma separando-a do resto do mundo.
Se você tiver tendências depressivas talvez esse livro seja alguma espécie de gatilho mas, de um modo geral, considero uma obra muito importante e necessária. Precisamos falar mais sobre a depressão e o suicÃdio em nossa sociedade; talvez A Redoma de Vidro ajude essa discussão ao proporcionar uma visão de dentro do transtorno para os que não o possuem e assim adicionar empatia para essas pessoas.
Nota 8 - bom livro
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