Filme Manchester à beira mar (resenha) #Oscar2017
Lee Chandler trabalha como um síndico em Boston. Ele mora em um quartinho em um dos complexos de apartamento em que atua e passa o dia realizando pequenos reparos e serviços. A única coisa que se parece com diversão na vida de Lee é ir beber até ficar bêbado em algum bar e arrumar briga com alguém. Ele não tem mulher e nem se preocupa em conseguir uma. Ele sequer sorri, até seu tom de voz é triste.
Quando recebe a notícia de que seu irmão está no hospital e volta para Manchester é que começamos a entender os motivos por trás dessa existência vazia. Ao mesmo tempo em que tem que lidar com o golpe da morte do irmão e com o sobrinho adolescente, Patrick, Lee também revive seu próprio passado quando retorna a sua cidade natal.
Manchester à beira mar é um dos indicados ao Oscar que eu tinha mais vontade de assistir. Não porque soubesse algo a respeito da história (não sabia nada) mas porque acho o título desse filme muito poético e as imagens que vi do filme me pareceram poéticas também. Acho que esse é o equivalente cinematográfico a querer ler um livro porque achou a capa bonita.
A perspectiva de acompanhar essa história sob o ponto de vista de um homem tão deprimido quanto Lee no começo não parece tão ruim mas depois acaba pesando um pouco. Por mais que o roteiro tenha uma série de pequenos momentos que poderiam ser de humor, o peso da história de Lee parece deixar todos esses momentos meio acinzentados. Eu não sei se todos que assistiram ao filme se sentiram dessa forma, mas fiquei bem pra baixo assistindo "Manchester à beira mar".
Falando sobre o suposto humor da história, não espere nada engraçadinho como "Pequena Miss Sunshine" ou "Juno". As discussões entre Lee e Patrick (principalmente no carro) e os momentos entre o jovem adolescente e uma de suas namoradas é o que mais perto se vê do humor nesse filme. Há humor de uma forma cínica na cena em que a esposa de Lee é colocada na ambulância por exemplo - o processo dura minutos, o que poderia ser engraçado se não estivéssemos vendo o personagem principal no pior momento de sua vida.
Lee é interpretado por Casey Affleck, que concorre ao Oscar de melhor ator por esse papel. É impressionante a forma como ele consegue mostrar a transição do personagem da figura despreocupada e inconsequente de antes para alguém totalmente embotado e vazio. A postura e voz de Affleck mudam e, no segundo momento, você só precisa ouvir a voz dele para saber que algo horrível aconteceu e que se trata de um homem muito, muito triste.
Com uma trilha sonora composta basicamente por músicas eruditas de cortar o coração e uma fotografia toda cinzenta, Manchester à beira mar é um dos filmes mais depressivos que já vi numa lista do Oscar desde que acompanho a premiação. Não que seja um filme triste - eu sequer chorei assistindo, embora algumas cenas, como a de Lee se despedindo do irmão e a conversa entre ele e a ex-esposa (vivida por Michelle Williams), tenham me deixado bem perto.
A depressão está no olhar apático de Lee, e no passado que é impossível superar vivendo em Manchester. Está na voz de Casey Affleck, na fúria e impotência que o personagem mostra em alguns momentos - só para retornar a apatia e tristeza nos momentos seguintes. Está na declaração de Lee para o advogado, quando este se demonstra surpreso que Lee não soubesse que iria ser o guardião de Patty após a morte do irmão. "Achei que você estivesse sempre por aqui", diz o advogado. "Eu sou apenas o estepe" (I'm just backup), Lee responde e entendemos que ele se sente incapaz de assumir o protagonismo na tarefa de cuidar de outra pessoa. O flashback no final dessa mesma cena nos explica o porquê.
Nem mesmo o final "feliz" conseguiu me alegrar, fui dormir com esse filme na cabeça e acordei pensando em como é possível uma história ser tão triste e te deixar tão mal sem apelar para cenas de dramalhão. Os entendidos talvez digam que a direção ou o roteiro combinamos com a trilha sonora e atuação. Já eu me sinto incapaz de analisar esse filme, e embora reconheça os méritos da trama por me causar tudo isso, admito que foi muito difícil concluir essas 02h10 - além de depressivo, o filme é bem lento.
Dei duas estrelas no filmow para Manchester à beira mar mar, o que (na avaliação do blog), seria um 7 - filme razoável. Acontece que esse filme não é razoável: por um lado reconheço seus pontos positivos e acho que merecia um 8 (bom). Por outro lado, eu não gostei da trama o deveria dar em 6 (não gostei). Mas, ao mesmo tempo em que não gostei, eu também não detestei o filme é a nota 6 me parece injusta...
Estou me complicando aqui. Preferia não fazê-lo mas para manter a tradição dou a "Manchester..." a nota 7. Não recomendo esse filme para ninguém mas assista se você quiser ver o babaquinha do Casey Affleck na melhor atuação de sua carreira.
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