Serpentário - Felipe Castilho

domingo, dezembro 22, 2019 0 Comments A+ a-



   Caroline, Hélio e Mariana estão passando as férias em São Sebastião onde Paulo vive. Os quatro passam todos os dias juntos, em meio a brigas, tédio e atividades diversas. Naquele ano em específico Caroline levou um filhote de cachorro que os amigos acabaram batizando de Mason. É justamente o desaparecimento do cão que dá origem a uma situação que irá alterar a vida desses jovens para sempre.
    Quase duas décadas depois Caroline luta contra a fobia de cobras. De volta a São Sebastião, ela marca um encontro com Mariana e Hélio naquele lugar onde tudo aconteceu. Nenhum deles parece muito interessado em reviver o passado mas cada teve sua vida alterada de modo significativo pelos momentos vividos a tantos anos. Será possível encontrar algum tipo de conciliação com o que passaram?
   Serpentário me lembrou um pouco de IT do autor Stephen King. Primeiro pela alternância dos capítulos entre passado e presente de um grupo de amigos. Embora seja focado mais no ponto de vista de Caroline e os personagens estejam longe de compor um "Clube dos Otários", há nesses momentos do passado certa nostalgia, como a que existia no livro de King. E isso e uma série de situações sobrenaturais que começam a acontecer com os protagonistas. No presente a vida parece ter afastado e tornado bem diferente aquele grupo de pessoas - em um primeiro momento elas parecem unidas apenas pelo o que viveram juntas. Mas isso também vai evoluindo ao longo da história. 
    A presença de uma figura antagonista central, O homem de branco, também é um dos pontos que me lembraram de IT. Porém, ao contrário do palhaço/coisa do best seller americano, o Homem de Branco não é necessariamente o mal puro. Difícil explicar mas em alguns momentos do livro você se vê concordando com esse personagem absolutamente apavorante, embora isso não tenha me impedido de ficar bem tensa nas cenas em que este aparecia. Gosto dessa ambiguidade, para mim deixa o livro ainda mais interessante do ponto de vista da mensagem transmitida e na questão psicológica. O que representa aquele homem claro de cabelos extremamente pretos numa ilha cheia de cobras? Façam suas deduções. 
   De leitura rápida e cheio de referências (a outras obras e até mesmo a programas de televisão) Serpentário é um livro divertidíssimo, não no sentido de comédia, claro, mas por ser uma leitura que entretém bastante. A própria narrativa de Felipe Castilho é algo a parte: temos momentos visualmente assustadores (aquele índio conduzindo uma canoa totalmente vendado é só um exemplo) e outros mais tensos mas também há uma ironia e senso de humor que são muito legais. Mentalmente, ela classificou a situação em que estava como “estranha para caralho é um quote que eu deveria levar para vários momentos da minha vida.
   Vi algumas reclamações sobre o final do livro mas, particularmente, achei incrível toda aquela cena de ação e reviravoltas inclusas. Entendo que alguns momentos possam ter forçado a verossimilhança para algumas pessoas (alô, submarino), mas para mim tudo fez sentido, dentro do contexto apresentado. A ilha das couves/cobras é mais do que uma ilha cheia de animais peçonhentos - é um lugar onde passado/presente/futuro se entrelaçam e se misturam, onde coisas estranhas e sem explicação acontecem e de onde algumas pessoas não voltam. Com esse raciocínio não é difícil entender alguns momentos do final, por mais absurdos que possam parecer.
   Ainda falando sobre o desfecho, gosto muito mais do final que Felipe Castilho deu para seus personagens do que o que Stephen King fez com os protagonistas de IT. É estranho imaginar que as pessoas passam por tudo o que passaram e continuaram as mesmas como acontece em IT. Faz muito mais sentido que as duas experiências, a do passado e do presente, tenham influenciado os personagens e os feito alterar o rumo da dúvida. 
   Para os que gostam de livros ágeis e com vários momentos meio sobrenaturais (e até mesmo um pouco assustadores), Serpentário é um prato cheio. Parte de mim gostaria que o autor tivesse explorado um pouquinho mais a história entre Mariana e Caroline mas entendo a necessidade de objetividade (não queremos aqui um calhamaço de mais de mil páginas, certo?). Infelizmente tal objetividade não aparece em outros momentos um da história - aquela visita de Caroline ao psicólogo foi mesmo necessária? Respeito o autor mas perguntar não ofende.
   Fica então a indicação de Serpentário, uma ótima indicação para essas férias e um livro que superou as minhas expectativas. Nota 8,5 - muito bom o livro mas tirei meio pontinho por essas cenas um tantinho desnecessárias.

Nascida no interior de SP, formada em Publicidade e Propaganda, sempre gostou de dar palpites sobre filmes, séries, animes, livros e o que mais assistir/ler. Autora do Blog "Resenhas e Outras Cositas Más" (Miss Carbono) e "Coisas de Karol". No Twitter fala de política, séries e da vida (não necessariamente nessa ordem). Siga: @karolro


Olá, seja bem-vindo!

Pode falar o que quiser do filme, livro ou texto - só peço que tome cuidado para não ofender os outros leitores do blog. Nada contra palavrões mas também não vamos exagerar, ok?

Obrigada!