Confissões do Crematório - Caitlin Doughty (Resenha)
Confissões do Crematório é um livro de não-ficção publicado pela editora Darkside que conta as experiências da autora trabalhando como auxiliar de cremação e, após, quando resolveu fazer o curso e se tornar agente funerária.
O livro todo é dividido em textos curtos, espécie de ensaios que Caitlin escreve sobre o tema, utilizando como pano de fundo suas experiências trabalhando no crematório. Todo o texto tem um ponto de vista bem prático e direto, o que pode ser chocante para pessoas desacostumadas a uma abordagem tão desprendida da morte.
A primeira metade o texto tem uma pegada mais acadêmica, com textos mais embasado por historiadores e filósofos e menos nas próprias opiniões da Caitlin. Nesse primeiro momento ela levanta a questão de que há algo errado na indústria da morte atualmente mas, por mais que isso a incomode, ela não é capaz de apontar soluções para os problemas levantados.
A segunda parte, embora ainda contenha certo embasamento, é mais focada na vida de Caitlin, suas reflexões e o que ela fez depois que saiu do Crematório. Nessa parte vemos mais exemplos de atitudes que, segundo a autora, trariam de volta o caráter ritualistico da morte, além de uma discussão do que seria "uma boa morte" nos dias atuais. No final do texto descobrimos que o livro foi escrito ao longo de seis anos, o que dá mais sentido a mudança no estilo dos textos do início para os do final.
Apesar de achar a autora um tanto mórbida demais, gostei da reflexão que esse livro traz. Ler Confissões do Crematório é uma forma de confrontar as nossas crenças pessoais sobre a morte e a forma correta de se dizer adeus a alguém com as crenças da autora. Não é necessário concordar 100% de Caitlin; o simples fato de pararmos para pensar como queremos dizer adeus aqueles que nós amamos ou o que queremos que seja feito com o nosso corpo depois de irmos já torna a leitura desse livro muito útil.
Não vou chegar ao ponto de dizer que todos deveriam ler Confissões do Crematório, até porque considero muitas passagens do livro propositalmente chocantes e acho a autora um tanto radical em suas ideias quanto ao que seria aceitável no descarte de um corpo.
Por exemplo, em determinado momento do texto a autora diz que deveria haver um local ao ar livre onde, as pessoas que manifestassem tal desejo previamente, teriam seus corpos descartados após a morte, para serem devorados por toda espécie de animais. Acho isso um tanto exagerado e anti higiênico, mas nem sempre a gente precisa concordar com tudo o que um livro diz para gostar dele.
Recomendo aos que tem interesse pelo tema e em uma abordagem menos sentimental do que a que nos é entregue atualmente. Li sobre pessoas que abandonaram a leitura por acharem o livro um tanto forte e concordo que as descrições de cadáveres são brutais - esteja preparado, caso queira se aventurar por essas páginas.
Nota 8 - um bom livro
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