O círculo - Dave Eggers (RESENHA)

sexta-feira, maio 26, 2017 0 Comments A+ a-



   Mae Holland é a protagonista desta distopia moderna, uma jovem que, após meses trabalhando em uma repartição pública, se torna funcionária da maior empresa de tecnologia do mundo, O Círculo. 
   Uma espécie de Google, "O Círculo" é a empresa que possui o controle de todas as pesquisas do mundo e está envolvida em todos em vários aspectos da vida moderna, desde redes sociais, até câmeras de segurança e sistemas para automatização das casas. 
   Qualquer um que já tenha se perguntado até onde vai a nossa imersão da vida digital vai se impressionar com a leitura desse livro. Partindo de um princípio aparentemente normal, em que é exigido de Mae certa participação em redes sociais, a trama toma proporções cada vez maiores, chegando ao seu ápice mo final da primeira parte, quando a protagonista toma uma atitude aparentemente absurda.

SEGREDOS SÃO MENTIRAS COMPARTILHAR É CUIDARPROVACIDADE É ROUBO
 (fonte)

   Comparando com as distopias clássicas, dá pra dizer que o Círculo é um 1984 com toques do modernismo de Admirável Mundo Novo. Mas, embora a temática tenha elementos dessas duas obras, a escrita de Eggers jamais poderia ser comparada a de Huxley ou Orwell - na verdade, nesse aspecto, seu estilo de escrita está mais para os YA distópicos ou New Adults. 
   Como que para confirmar essa tendência teen do livro, em determinado ponto Mae se vê em um triângulo amoroso. Dividida entre um nerd chamado Francis e o misterioso Kalden, com o qual compartilha algumas cenas eróticas durante o livro, Mae se vê cada vez mais envolvida nesse universo do Círculo, o que afeta seus relacionamentos românticos, familiares e suas amizades. 
   Há algo de machista na forma como Mae parece estar sempre sendo conduzida por homens? Sim, mas creio que isso é mais um reflexo da personagens ser jovem e inexperiente do que pelo seu sexo. Aos 24 anos, Mae sente necessidade de agradar seus novos patrões e acaba se oferecendo prontamente para uma série de situações que antes teria recusado, devido a essa necessidade. Os poucos momentos de lucidez da personagem são evasivamente descritos como "um rasgo negro" se abrindo dentro dela, não há maiores reflexões internas. Mae é uma observadora de uma série de opiniões masculinas conflitantes: a de seu ex namorado, a de Kalden, a dos fundadores do Círculo. 
Ao se concentrar nessa figura com tão pouca vontade pessoal, o livro perde grandes oportunidades de reflexão. As "cartas" escritas pelo ex de Mae são um exemplo do que poderia ter sido o restante do livro, se a escolha do autor pudesse ter sido um pouco diferente. 
Lombada da versão em inglês (FONTE)
   Embora eu tenha gostado muito da primeira parte, achei a segunda e a terceira um tanto decepcionantes. Estava esperando que Mae percebesse o tipo de situação em que estava metida mas isso não ocorreu, o que tornou tudo um pouco frustrante. Por outro lado, o desfecho do livro é anti climático; o autor blinda os leitores dos momentos mais dramáticos e o resultado e que nos sentimos tão apáticos como a personagem principal ao saber o que acontece
   Li "O círculo" por indicação do App Book4you, que indica livros pela sinopse. Quando soube que iria virar filme me interessei ainda mais pela história, li as cerca de 550 páginas bem rápido para os meus padrões. Mas ainda assim, me sinto um pouco decepcionada com o quadro geral.
   Claro, ainda recomendo o livro. Há boas reflexões sobre nosso futuro cada vez mais tecnológico, monopólio de grandes corporações e do quanto estamos dispostos a abrir mão da nossa privacidade para nos sentirmos mais seguros. 
   Mas "O círculo" também tem sérios problemas e o principal é a protagonista. Mae é usada por absolutamente todos os personagens do livro, manipulada por todos os lados. Acompanhar o livro sob seu ponto de vista é frustrante, ainda mais quando não há nenhum insight, nem um momento de clareza na trajetória da personagem
   Além disso a trama poderia ser menos repetitiva e alguns momentos simplesmente não deveriam existir. Tudo isso forma um quadro meio desconexo: "O círculo" é bom, mas não o suficiente para ser inesquecível. 

Nota 8

Nascida no interior de SP, formada em Publicidade e Propaganda, sempre gostou de dar palpites sobre filmes, séries, animes, livros e o que mais assistir/ler. Autora do Blog "Resenhas e Outras Cositas Más" (Miss Carbono) e "Coisas de Karol". No Twitter fala de política, séries e da vida (não necessariamente nessa ordem). Siga: @karolro


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