Livro Os 13 porquês - Jay Asher

sexta-feira, maio 05, 2017 0 Comments A+ a-

  
    Quando Clay recebe uma caixa com fitas cassetes ele acha estranho. Afinal, quem ainda usa essas coisas? E por que estavam mandando isso pra sua casa? 
   A resposta vinha de forma chocante: aquelas fitas eram o "bilhete suicida" de Hannah Baker, uma garota de sua escola que havia se matado algumas semanas atrás. Segundo Hannah, se você está ouvindo as fitas era porque tinha alguma culpa na morte dela. 
   "Os 13 porquês" foi escolhido para o Clube do Livro do qual participo. Coincidência ou não, na mesma semana em que li essa história saiu a série na Netflix e todo mundo vem falando o quanto essa história é incrível desde então. 
   A temática do suicídio em livros Teen é algo que me causa sentimentos mistos. Por um lado, acho que o suicídio é um assunto de saúde pública e que o mesmo deve ser discutido nas escolas com tanta seriedade quanto se discute "gravidez na adolescência" ou "drogas". Enquanto o suicídio for um assunto tabu, continuaremos vendo jovens e adultos de nossa sociedade tirando a própria vida porque tiveram vergonha de pedir ajuda. 
   Por outro lado, a minha experiência com livros adolescentes sobre o tema não é lá das melhores. Há sempre o receio de que o suicídio seja tratado como algo ideal, que haja uma banalização do fato. Por lugares incríveis é um exemplo de um livro do qual esperava muito e que me decepcionou. 
   Apesar dos meus receios, o livro acabou se revelando uma ótima surpresa. Temas como suicídio, bullying, assédio, são retratados aqui com seriedade mas também de modo interessante. A trama se desenvolve como um mistério: o que Clay fez para Hannah é a pergunta que não quer calar e que nos deixa motivados a seguir com o livro até que tenhamos respostas. 
   Os porquês da personagem vai aumentando de seriedade e intensidade e estão todos conectados, por isso é interessante. Faz pensar o quanto uma atitude aparentemente inofensiva pode gerar danos emocionais gravíssimos na mente de uma pessoa e o quanto as vezes não percebemos as pequenas crueldade que praticamos (no colegial e na vida). 
   Não posso dizer que fiquei triste lendo o livro. Claro, o desfecho da personagem principal é algo bem para baixo mas meu sentimento principal ao acompanhar essa história foi raiva. Senti uma raiva generalizada ao ler esse livro, não só pelos citados nas fitas mas também por Clay e Hannah. O primeiro porque se coloca numa posição de salvador e por suas atitudes e pensamentos machistas ao longo da história. A segunda por tratar da própria morte como se fosse uma vingança pessoal contra as pessoas citadas. 
   Conforme o livro vai passando vemos que, embora todos as pessoas das fitas tenham menores ou maiores parcelas de culpa pela morte de Hannah, a jovem também já estava em um momento muito difícil. Recém chegada na escola, ignorada pelos pais, Hannah se sentia deslocada de tudo e de todos e coisas vão acontecendo para que ela se sinta cada vez mais deprimidas. É interessante que os porquês 10 e 11 revelam (além do nome de outras pessoas) momentos que deixam Hannah se sentindo culpada - se certa personagem do livro, que sofre uma violência terrível, resolvesse se matar, Hannah seria um porquê dessa garota. 
   Essa auto recriminação é que dá impulso a decisão de Hannah de tirar a própria vida. O motivo 12 é reflexo da apatia que a jovem pensa e do quanto ela quer se distanciar de si mesma. 
   Acho que a principal mensagem do livro vem com o motivo 13. Nós podemos não ser especialistas para lidar com suicidas em potencial, mas temos o dever de levar a sério essas pessoas. Se alguém dizer para você que quer sumir, leve a sério. Se ver alguém se isolando na escola, leve a sério. É muito fácil taxar alguém de louco e seguir com a vida, mas podemos/devemos ouvir essas pessoas, fazer com que elas se sintam compreendidas e busquem ajuda. 
   Recomendo aos adolescentes, ao pais e parentes de adolescentes, aos que trabalham com adolescentes. Nota 8 - um bom livro.


P. S.: um ponto fraco do livro é que não há contexto familiar já história: os pais de Hannah são citados muito superficialmente e não há qualquer menção ao relacionamento dela com eles. O livro me pareceu incompleto sem esse ponto de vista.

Nascida no interior de SP, formada em Publicidade e Propaganda, sempre gostou de dar palpites sobre filmes, séries, animes, livros e o que mais assistir/ler. Autora do Blog "Resenhas e Outras Cositas Más" (Miss Carbono) e "Coisas de Karol". No Twitter fala de política, séries e da vida (não necessariamente nessa ordem). Siga: @karolro


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