Dois Irmãos - Milton Hatoum (Resenha)
Recorte da capa da edição de bolso de Dois Irmãos (Fonte) |
Uma história contada em cerca de 200 páginas mas que tem o efeito de um soco. A prosa do autor é excelente e vai nos mostrando a história dessa família amazonense de forma tão realista que é como se o narrador estivesse em nossa frente, contando tudo o que aconteceu. O "efeito de soco" que eu citei se refere as temáticas apontadas do livro que vão desde a ditadura militar até o incesto, esse um dos principais elementos da trama junto do ódio nutrido pelos dois irmãos, Omar e Yaqub.
É muito fácil ler esse livro e cair no esteriótipo do gêmeo bom e gêmeo mau, um clichê que povoa a ficção moderna. Mas, embora Omar e Yaqub sejam opostos da mesma moeda, um impulsivo enquanto o outro é paciente, os adjetivos bons e mau não servem para definir seres humanos reais e, tampouco, qualquer personagem desse livro. Não há bom e mau nessa história, todos podem agir de forma boa ou má conforme as circunstâncias e interpretações.
Enquanto as mulheres parecem amar em excesso, o contrário ocorre com os homens, que vem um no outro rivais pela afeição dessas mulheres: Zana, a mãe, prefere o filho Omar a Yaqub e até ao próprio marido. Já Halim, o marido, pouco a pouco passa a detestar Omar porque considera o filho a razão de não conseguir viver em paz com a mulher. Halim sente muito orgulho do filho Yaqub mas creio que essa suposta afeição só ocorre porque o mesmo permanece o máximo possível distante do lar.
Escolhi esse livro para o Clube de leitura do qual eu participo, principalmente pela minissérie, que estava prestes a estrear. Eu queria ler o livro antes, para não pegar nenhum spoiler da trama. Logo de cara percebi que foi uma escolha ousada: embora curta, essa história não é fácil de digerir e pode afastar um leitor despreparado. Cheguei a cogitar escolher esse livro mas a trama de Dois Irmãos já estava dominando meus pensamentos, eu queria que mais pessoas lessem essa obra incrível.
Enquanto as mulheres parecem amar em excesso, o contrário ocorre com os homens, que vem um no outro rivais pela afeição dessas mulheres: Zana, a mãe, prefere o filho Omar a Yaqub e até ao próprio marido. Já Halim, o marido, pouco a pouco passa a detestar Omar porque considera o filho a razão de não conseguir viver em paz com a mulher. Halim sente muito orgulho do filho Yaqub mas creio que essa suposta afeição só ocorre porque o mesmo permanece o máximo possível distante do lar.
Trecho da Capa de "Dois Irmãos". A casa é um símbolo da família desfeita |
Narrado por Nael, o filho da empregada Domingas, em um esforço para descobrir qual dos gêmeos é o seu pai, o livro se passa em uma ordem cronológica não muito rígida. No início temos a mãe da casa, Zana, em seu leito de morte; no capítulo seguinte voltam-se alguns anos, no retorno de Yaqub depois de ficar anos no exterior. Como um contador de histórias, Nael as vezes avança, as vezes retorna no tempo, até traçar todo o panorama dessa casa (e família) destruídas pela vingança e pelo ódio.
Dois Irmãos foi publicado a menos de 20 anos, o que torna essa obra algo ainda recente, quando se trata de literatura, mas vejo nessa trama elementos dos melhores clássicos literários, do Brasil e do exterior. Posso estar errada mas vejo Omar e a Yaqub tão perenes na nossa literatura quanto um Fabiano, um Bentinho - a força dessa história me parece atemporal. Mesmo que o final não traga nenhuma revelação surpreendente ou até mesmo algum clímax dramático, a história de Dois Irmãos permanece no leitor e faz com o que ele reflita, mesmo muito tempo depois de ter lido, sobre os ocorridos, os personagens e seu desfecho.
Pretendo ler outros livros do Hatoum e recomendo esse livro a todos que gostam de boas histórias, embora o leitor deva estar preparado para alguns temas tabu. Há muito tempo um livro não me surpreendia tanto por sua qualidade. Por isso, se estiver afim de ler, leia: essas 200 páginas são mais do que o suficiente para contar uma história forte e envolvente, com personagens tão reais que parecem saltar de suas páginas.
Pretendo ler outros livros do Hatoum e recomendo esse livro a todos que gostam de boas histórias, embora o leitor deva estar preparado para alguns temas tabu. Há muito tempo um livro não me surpreendia tanto por sua qualidade. Por isso, se estiver afim de ler, leia: essas 200 páginas são mais do que o suficiente para contar uma história forte e envolvente, com personagens tão reais que parecem saltar de suas páginas.
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