|RESENHA| Malagueta, Perus e Bacanaço - João Antônio #DesafioLivrada

sexta-feira, dezembro 09, 2016 0 Comments A+ a-

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   João Antônio foi um escritor e jornalista brasileiro. Seu primeiro livro, "Malagueta, Perus e Bacanaço" foi lançado em 1963 e lhe rendeu fama e dois prêmios Jabuti. A partir desse reconhecimento, seu nome passou a ser conhecido entre os literatos brasileiros como um autor capaz de dar voz a marginalidade Paulista, tanto com o uso de gíria e coloquialidade quanto por seu estilo único de prosa. 

   Comprei esse livro há quase 1 ano, minha última compra no site da Cosac Naify. Tudo o que sabia sobre esse autor era o que estava escrito na "descrição" dele no site mas resolvi comprar porque me interessei por sua obra (e porque queria aproveitar o desconto de 50% que tinha no site). 
   Assim que eu li a sinopse de "Malagueta, Perus e Bacanaço" e as declarações sobre a escrita de João Antônio, soube que ia gostar desse livro. Mas foi necessário quase um ano e a inclusão da obra no meu Desafio Livrada (na categoria "um autor do seu estado") para que eu finalmente desse início a essa leitura. Por que a gente adia tanto a leitura de livros que sabemos que vamos gostar? Boa pergunta. 
   Os contos aqui são divididos em três partes. Na primeira, "Contos gerais", estão os contos mais curtos e mais fracos desse livro. São apenas três contos aqui e o meu preferido dessa parte é "Fujie", o mais perto de uma história de amor a que o autor chega neste livro. 
   Na segunda parte, "Carserna", temos mais dois contos, dessa vez passado em quartéis. Nesse momento do livro nota-se que o autor organizou o livro de forma brilhante, já que a qualidade e  complexidade das histórias só vai aumentando com o passar dos contos. Depois que li "Fujie" me senti fisgada pelo estilo de narrativa do autor e por suas histórias com personagens humanos e não consegui mais parar de ler esse livro até terminá-lo. 
    Os contos de "caserna" são muito bons mas o melhor está na terceira e última parte do livro, "Sinuca". É aqui que vemos o "submundo" da São Paulo da época e é também nesse momento em que vemos João Antônio em seu auge como escritor. São contos passados em sua maioria a noite e ora em primeira, ora em terceira pessoa, mas nunca falhando em nos dar retratos pungentes de pessoas e lugares. Não me surpreenderia saber que algumas dessas tramas tem caráter auto biográfico porque algumas histórias e personagens parecem tão reais que é fácil imaginar que eles existiram mesmo. 
   "Malagueta, Perus e Bacanaço", conto que dá título ao livro e que o finaliza é um conto excelente e destaca-se como o ápice de todas essas narrativas, momento em que somos levados pela noite de São Paulo e vivemos aventuras ao lado dos 3 malandros que dão título a obra. 
   É um conto mais longo, repleto de personagens interessantes e ambientes quase nunca agradáveis. O autor, utilizando da terceira pessoa, vai alternando pelo ponto de vista de Malagueta (velho e abatido) Bacanaço (no auge de seu jogo e "cabeça do bando") e Perus, o mais novo de todos. Os três, Malagueta, Perus e Bacanaço são "tacos", isto é, exímios jogadores de sinuca, e ganham dinheiro dessa forma. 
   Mas, embora só tenha elogios para esse último conto, a história do livro de que mais gostei e a que vem antes desta. "Meninão do Caixote" deixou meus olhos mareados. Talvez nem tenha sido essa a intenção do autor mas sua escrita simples dessa história corriqueira sobre um menino que se torna um às na sinuca me emocionou e fez desse o meu conto favorito; esse conto é escrito em primeira pessoa que, na minha opinião, é a voz com a qual o autor trabalha e se expressa melhor.  Todos os contos em primeira pessoa que li nesse livro são interessantes, porque revelam um pouco mais dos sentimentos e angústias dos personagens. 
   Recomendo muito esse livro para todos os que gostam de contos e de personagens meio sem rumo na vida. Algumas histórias são melhores que as outras mas o subtexto dos contos e os personagens que se sentem deslocados no mundo em que vivem valem a pena até mesmo em histórias não tão legais quanto as que citei. 
  João Antônio dificilmente pode ser considerado um escritor datado pois através de sua escrita simples e sem firulas somos apresentados a um universo único e palpável. É como se, conforme lemos, a São Paulo do início da  década de 60 - da Lapa com ruas de terra, dos corregos na Vila Mariana e do período pré ditadura militar - estivesse viva e se descortinasse perante nossos olhos. 
   E, se muito mudou desde então, se o malandro Paulista já não é o mesmo dos contos deste livro, ainda ficam as boas histórias e a visão e voz que o autor deu aos marginalizados deste período, que pela primeira vez puderam vez a si mesmos em um livro - não é à toa que o livro foi sucesso de público quando vai lançado em 63. 
   Nota 9 - muito bom.

Nascida no interior de SP, formada em Publicidade e Propaganda, sempre gostou de dar palpites sobre filmes, séries, animes, livros e o que mais assistir/ler. Autora do Blog "Resenhas e Outras Cositas Más" (Miss Carbono) e "Coisas de Karol". No Twitter fala de política, séries e da vida (não necessariamente nessa ordem). Siga: @karolro


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