|Resenha| O lobo do mar - Jack London

sexta-feira, setembro 30, 2016 0 Comments A+ a-


   Um jovem herdeiro, sedentário e exclusivamente voltado para as coisas intelectuais vê-se em um navio que naufraga. Quando é resgatado por uma escuna chamada "Ghost", Humpfrey acredita que seus problemas mas na verdade estão apenas começando: O capitão do navio, Lobo Larsen, se recusa a retornar Hump a terra firme, ao invés disso, lhe oferece um "emprego" na Ghost. 
   Como o nome já pode ter sugerido, esse é um livro que se passa quase em sua totalidade em alto mar.  A história se foca nos acontecimentos do Ghost e na "evolução" de Hump, de dândi despreocupado e sensível para um 'verdadeiro homem', que na visão do autor é alguém que batalha para sobreviver e ganha seu sustento com seu próprio esforço (olha o Marx aí).    A capa do livro fala que o autor escreveu o livro influenciado pelas ideologias de Marx, Nietzsche e Darwin e, pelo pouco que conheço desses três autores, concordo plenamente com isso. No universo formado pela Ghost, no qual Hump é inserido, a lei do mais forte prevalece sobre qualquer honra e moral. Lobo Larsen, o capitão do navio, é Nietzche desde às palavras e atitudes até as crises de enxaqueca, que também acometiam o filósofo. Larsen é o superman nietzschiano e domina os tripulantes pela força, além de usar sua mente igualmente privilegiada para defender sua forma de enxergar a vida para Hump, que por sua vez defende o idealismo e a moral sobre os instintos. 
   O embate entre esses dois personagens, Hump e Lobo é um dos pontos principais do livro. São várias páginas de uma discussão filosófica entre esses dois personagens, sempre motivadas por algum acontecimento dentro da Ghost. Apesar de Hump discordar do capitão da escuna, tudo na Ghost parece confirmar as palavras do capitão e ele se vê, com frequência tomado por dúvidas e cometendo atitudes que o "antigo Humpfrey" talvez reprovasse. 
   'O lobo do mar' poderia ser apenas mais um livro de aventuras escrito no início do século XX não fossem os debates filosóficos e, mais ainda, não fosse Lobo Larsen. Um personagem que rouba a cena tanto no título quanto no decorrer da história, Larsen horroriza e provoca fascínio tanto no leitor quando no narrador-protagonista Humpfrey. A dinâmica entre esses dois até a metade do livro é bem intensa e não apenas pelos debates filosóficos: por vários momentos tive a impressão de que Hump estava se apaixonando pelo Lobo ou, no mínimo, extremamente atraído por este. 
   Escrevi nas minhas anotações que Hump tinha algumas atitudes e pensamentos que já vi em heroínas de romance de banca, ora sentindo repulsa pelas atitudes e falas do mocinho, ora se sentindo fascinada por suas palavras e físico. De fato, na primeira vez que viu Lobo sem camisa, Hump só faltou desmaiar - de resto agiu totalmente como uma heroína desse 'gênero' que conheço tão bem. 
   Mas, se no início o livro parecia seguir por esse âmbito filosófico, entremeados de aventuras no mar e com pitadas de homoerotismo, na segunda parte da história essa pegada se perde um pouco. O aparecimento de Maud Brewster, escritora e também naufraga, muda toda a dinâmica entre os personagens principais e a narrativa também.
   Se antes era a batalha entre o "bem x mal" ou "idealismo x materialismo", com o aparecimento de Maud a história toma contornos mais comerciais. Um óbvio triângulo amoroso se forma rapidamente e, a partir daí, o livro vai ficando cada vez pior. 
   Eu tive meus problemas com 'O lobo do mar'. Por um lado, gostei muito da "aventura marítima" e me enfureci com as crueldades de Lobo Larsen assim como o protagonista, ao mesmo tempo que acompanhava com interesse as trocas filosóficas entre os dois. Por outro lado, Hump, que deveria ser "gostável" tanto quanto Lobo é odiável, não cumpriu bem a sua função enquanto personagem. Ao longo do livro ele passou de simplesmente patético para um babaca total, enquanto Larsen continuava odioso. 
   O resultado é que fui ficando cada vez mais desgostosa do livro, chegando até a torcer para o Lobo em alguns momentos (só para ver Hump se lascando). Maud, que surge de paraquedas na reta final da história, é uma personagem tão plana e ridícula que eu fico me perguntando porquê o autor a inseriu numa história que tinha tudo para ser realmente boa.     Para piorar, pouco após o surgimento de Maud, a história passa a terra firme. As coisas já estavam ruins antes mas ficam realmente chatas quando o Ghost, que é quase um personagem também, sai de cena. Hump e Maud não tem carisma o suficiente para nos fazer torcer por eles e algumas atitudes que eles tomam pela sobrevivência tornou ainda mais difícil simpatizar com ele. A ghost é uma escuna caça-focas mas o ato só é descrito, com toda a sua crueza, no final. 
   Mesmo com esses altos e baixos, o final ruim e as situações meio absurdas ou até mesmo cruéis até que vale a pena ler "O lobo do mar". Lendo esse livro eu tive a sensação de estar em contato com uma história que, não só propõe discussões interessantes, mas também nos apresenta um personagem memorável, Lobo Larsen. Posso estar falando alguma besteira mas tive a impressão de que muitas histórias atuais se inspiraram nessa trama, tando para composição da história quanto na composição dos personagens. 
   Por esse motivo, e por ser uma aventura em alto-mar quase sempre interessante, eu recomendo "O lobo do mar". Há certa ingenuidade em alguns acontecimentos (um personagem ter a perna comida por um tubarão!) mas o livro, quase em sua totalidade, foi bem bacana - fiquei até com vontade de ler outros livros que se passam no mar. 
   Nota 7,5 - é um bom livro mas tirei meio ponto pelos probleminhas que citei.

|LEIA A SINOPSE DE "O LOBO DO MAR" NO SKOOB|

Nascida no interior de SP, formada em Publicidade e Propaganda, sempre gostou de dar palpites sobre filmes, séries, animes, livros e o que mais assistir/ler. Autora do Blog "Resenhas e Outras Cositas Más" (Miss Carbono) e "Coisas de Karol". No Twitter fala de política, séries e da vida (não necessariamente nessa ordem). Siga: @karolro


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