|FILME| Spotlight (Resenha / Review) #Oscar2016

sexta-feira, fevereiro 26, 2016 1 Comments A+ a-

   
   O ano é 2001 e o  Boston Globe, um dos jornais mais importantes de Boston, é comprado pelo Times e ganha um novo editor, Marty Baron. Há boatos de corte de funcionários no jornal e os jornalistas do "Spotlight" estão preocupados. Spotlight é o nome de uma coluna de reportagens especiais do Boston Globe, em que os jornalistas passam meses investigando um único caso e fazem reportagens completíssimas sobre um tema geralmente bombástico. 
   Quando Baron sugere que Walter Robinson, editor da coluna Spotlight, investigue os casos de abuso dos padres católicos a primeira reação de Robbie é ceticismo já que aquela parecia uma história fracassada, inventada por pessoas querendo chamar a atenção. Vale lembrar que Boston, pelo o que filme mostra, é uma cidade extremamente católica para os padrões americanos e é por isso que, a principio, todos parecem relutantes em investigar. 
   Mas logo surgem as primeiras confirmações e eles descobrem que o caso era maior do que pensavam. E pior: a história estava ali para ser contada o tempo todo. Infelizmente parece que ninguém acreditava nela o suficiente para correr atrás. 
   Assistir a esse filme foi como levar um tapa na cara ou um soco no estômago. Como católica, senti-me passando por todos os 5 estados da perda (Negação, Raiva, Barganha, Depressão, Aceitação) quando assisti a esse filme, numa escala bem menor mas impactante da mesma forma. Passei da raiva por estarem denegrindo a imagem da igreja a profunda tristeza ao ver relatos de pessoas que, como é dito no filme, sofreram abusos não só sexuais mas também em sua espiritualidade. Esse tipo de violência é algo desumano e atroz e, ver que as pessoas que deviam punir esse tipo de atitude na verdade acobertaram tudo, é arrasador para mim, como católica mas também como ser humano. 
   Do ponto de vista técnico é um filme bem amarrado e com atuações sólidas, como a de Michael Keaton como Robbie e Marc Ruffalo e Rachel McAdams como jornalistas do Globe. O filme não conta com músicas e a trilha sonora é bem minima e sutil. O foco está na história contada, nessa descoberta feita por um par de jornalistas de Boston, que mudou o modo como a Igreja Católica trata esses abusos cometidos por padres (embora eu ache que ainda não tenha mudado o suficiente). 

    E é por esse motivo, a história da investigação e da criação de reportagens que renderam o prêmio Pulitzer para esses jornalistas, que Spotlight concorre ao Oscar de melhor filme. O poder dessa revelação trouxe esse reconhecimento pois, se tirarmos isso, não é mais do que qualquer outro filme de investigação jornalistas que já vimos (e muito) nos cinemas. 
    Não estou dizendo que Spotlight seja ruim. Um dos méritos de Spotlight é não retratar os jornalistas como super heróis, paladinos da verdade, nem a Igreja Católica como os únicos vilões de tudo (ao menos não sempre). Robbie é um claro exemplo desse meu ponto de vista, o personagem que, pela história desenvolvida ao longo do filme, mostra o quanto as pessoas tendem a virar as costas a casos de abusos. 
   Sim, a Igreja Católica cometeu um erro execrável ao esconder os crimes dos padres pedófilos mas a sociedade, como um todo, parece ter dificuldades em ver e acreditar que isso estava realmente acontecendo. A lista ao final, que cita as cidades que tiveram casos de abuso de maior repercussão, cita a cidade de Franca, que fica a cerca de 500km de onde vivo. Fiquei me perguntando quantos casos mais existiram e não são sequer conhecidos.
   Recomendo para os que querem a narrativa, sem firulas, de uma baita investigação jornalistica. Não queria mesmo fazer esse trocadilho, mas para mim, assistir a esse filme foi como ter um holofote (spotlight, em inglês) jogado sobre uma verdade até então acobertada. 
   Para outras pessoas pode ser uma história clichê mas, como católica, senti que esse é um filme que traz muito desconforto*, mas que necessita ser vista (até para não repetirmos esse ocorrido nunca mais). 
    Nota 8 - bom. 

* Por esse motivo, a cena em que a avó da personagem principal lê a matéria veiculada pela primeira vez, foi uma das poucas que achei tocante nesse filme que é mais cerebral que sentimental. 

|TRAILER|


Spotlight concorre ao Oscar 2016 nas categorias: melhor filme, melhor atriz coadjuvante (Rachel McAdams), melhor ator coadjuvante (Mark Ruffalo), melhor diretor, melhor roteiro original, entre outros. 

Nascida no interior de SP, formada em Publicidade e Propaganda, sempre gostou de dar palpites sobre filmes, séries, animes, livros e o que mais assistir/ler. Autora do Blog "Resenhas e Outras Cositas Más" (Miss Carbono) e "Coisas de Karol". No Twitter fala de política, séries e da vida (não necessariamente nessa ordem). Siga: @karolro

1 comentários:

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Valeria L.
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26 de agosto de 2016 às 14:12 delete

Totalmente imersiva e intensa. Este é um filme realmente poderoso, história e, especialmente, as performances são incrível elenco, Liev Schreiber, por exemplo, que aqui desempenha um editor recém-nomeado, um personagem muito diferente que ele joga em Ray Donovan. Nesta série interpreta um personagem centrado, frio e encarregado de organizar cenas e corpos crime desaparecer, é certamente um grande desempenho.

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