Resenha: A revolução dos bichos - George Orwell

segunda-feira, setembro 29, 2014 0 Comments A+ a-

             
              Era uma vez uma fazenda chamada ‘Granja do Solar’. Lá os bichos viviam como qualquer outro bicho  da Inglaterra: Trabalhavam a vida inteira para um fazendeiro chamado sr. Jones, torcendo para que em troca recebessem comida e abrigo suficientes. Um belo dia um porco, Major, tem uma visão: Um mundo em que os homens, não fossem os patrões e os bichos pudessem trabalhar para si mesmos. Major ensina a eles uma canção, para que não se esquecem das lições daquele dia, chamada “Bichos da Inglaterra”. Três dia depois, Major morre, mas seus ideais permanecem.
               Depois de algumas semanas conversando e tramando sua ‘revolução’, os bichos veem se no poder de um dia para o outro, num ato mais impulsivo que pensado, eles acabam botando o senhor Jones para correr. É então que a ‘Granja do Solar’ se torna ‘Granja dos bichos’ e uma vida nova começa para os animais da fazenda, que agora trabalhando para si mesmos, sob orientação dos porcos Napoleão e Bola de Neve.
               A revolução dos bichos é um livro lançado a mais de 50 anos, porém que ainda se faz moderno, pelo atemporalidade de sua obra. Aqueles que pensam que trata-se apenas de mais uma história sobre bichos falantes, lá vai a ‘grande surpresa’: Trata-se de uma paródia da Revolução Socialista da Rússia. O porco Major é uma referência ao próprio Marx, enquanto que porcos como Napoleão e Bola de Neve são, respectivamente, Stalin  e Trotsky. Assim que foi escrito foi recusado por diversos editores e só foi divulgado e lido na clandestinidade – afinal, nenhum editor da época queria publica uma história que colocasse os chefes da URSS como porcos.
               No entanto, com a Guerra Fria, o livro passou a ser utilizado e amplamente divulgado pelo governo americano como propaganda anticomunismo. A ironia é que George Orwell, autor do livro, era ele mesmo de esquerda (era social democrata mas antes foi comunista) e utilizou o livro para mostrar a seus ‘camaradas’ refugiados da URSS que aquele governo nada tinha  do ‘verdadeiro’ comunismo. Mal sabia ele que a Granja dos Bichos iria ser associada como o fatal resultado de uma revolução marxista.
               Depois de tomar o poder, surgem as regras e, logo, as primeiras divergências. Bola de Neve acaba sendo expulso por Napoleão da Granja, que se torna o chefe supremo. Napoleão então faz suas próprias regras, assessorado por Garganta, um porco minúsculo mas muito enérgico  que convence os bichos a aceitarem as mais diversas falcatruas sob o argumento de que, se não o fizessem, ‘Jones voltará’.
               Comecei a ler “A revolução...” por uma série de coincidências que nem devo explicar aqui, para não alongar a resenha. Basta dizer que o livro chegou em minhas mãos e que o li rapidamente, tanto pela história ser razoavelmente curta, quanto pela linguagem, que também é muito simples. Como eu disse acima, se não fosse todo o subtexto, poderia facilmente passar por uma fábula qualquer.
               É engraçado que um livro tão simples desperte tantas reflexões. Fui do ceticismo com a tal “revolução”, até aquele sentimento de “eu sabia!” conforme o governo se tornava mais e mais autoritário, passando por sorrisos e pesares. Uma das cenas mais impactantes para mim, envolve o cavalo Sansão e, para mim, é um divisor de água da história. Depois do que acontece com ele, comecei a lamentar realmente pelos bichos: Sim, eles confiaram em que não deveriam e estavam se submetendo aquelas condições precárias mas, no inicio, não tinham todos os mesmo sonhos? Quase ninguém se lembrava, no entanto.
               A mensagem do final é clara e está também na contra capa do livro: Quem abre mão da liberdade por uma promessa de segurança, acaba ficando sem os dois. A maneira como isso ocorre, a ironia da situação e a desilusão dos bichos do lado de fora daquela casa de fazenda, entrou para a minha lista de momentos marcantes da literatura.
               Recomendo muito ‘A revolução dos bichos’, principalmente nesse período de eleições. Não o li por esse motivo, mas é impossível não traçar um paralelo com o Brasil e lembrar das ameaças de alguns políticos de que, se não forem eleitos, “a inflação vai voltar”, “vão acabar com o bolsa família” e outras ameaças esdruxulas de pessoas que querem que o eleitor veja um inimigo em cada esquina. 
                Cada um vota em que acha melhor mas não posso deixar de me perguntar se algum dia não iremos terminar assim como os bichos da Granja do Solar, olhando nossos 'iguais' se esbaldando enquanto padecemos e descobrindo que, se todos os bichos são iguais, nesse tipo de 'revolução' alguns sempre acabam sendo mais iguais que os outros

                 Para entender, leia! Nota 9 – um livro muito bom.

Sinopse do livro no Skoob

"My work always tried to unite the true with the beautiful; but when I had to choose one or the other, I usually chose the beautiful." -- Hermann Weyl Miss Carbono que é o numero 6 na tabela periodica


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