Resenha: A revolução dos bichos - George Orwell
Era
uma vez uma fazenda chamada ‘Granja do Solar’. Lá os bichos viviam como
qualquer outro bicho da Inglaterra:
Trabalhavam a vida inteira para um fazendeiro chamado sr. Jones, torcendo para
que em troca recebessem comida e abrigo suficientes. Um belo dia um porco,
Major, tem uma visão: Um mundo em que os homens, não fossem os patrões e os
bichos pudessem trabalhar para si mesmos. Major ensina a eles uma canção, para
que não se esquecem das lições daquele dia, chamada “Bichos da Inglaterra”.
Três dia depois, Major morre, mas seus ideais permanecem.
Depois
de algumas semanas conversando e tramando sua ‘revolução’, os bichos veem se no
poder de um dia para o outro, num ato mais impulsivo que pensado, eles acabam
botando o senhor Jones para correr. É então que a ‘Granja do Solar’ se torna
‘Granja dos bichos’ e uma vida nova começa para os animais da fazenda, que
agora trabalhando para si mesmos, sob orientação dos porcos Napoleão e Bola de
Neve.
A
revolução dos bichos é um livro lançado a mais de 50 anos, porém que ainda se
faz moderno, pelo atemporalidade de sua obra. Aqueles que pensam que trata-se
apenas de mais uma história sobre bichos falantes, lá vai a ‘grande surpresa’: Trata-se
de uma paródia da Revolução Socialista da Rússia. O porco Major é uma
referência ao próprio Marx, enquanto que porcos como Napoleão e Bola de Neve são,
respectivamente, Stalin e Trotsky. Assim
que foi escrito foi recusado por diversos editores e só foi divulgado e lido na
clandestinidade – afinal, nenhum editor da época queria publica uma história
que colocasse os chefes da URSS como porcos.
No
entanto, com a Guerra Fria, o livro passou a ser utilizado e amplamente
divulgado pelo governo americano como propaganda anticomunismo. A ironia é que George
Orwell, autor do livro, era ele mesmo de esquerda (era social democrata mas antes foi comunista) e utilizou o livro para
mostrar a seus ‘camaradas’ refugiados da URSS que aquele governo nada
tinha do ‘verdadeiro’ comunismo. Mal
sabia ele que a Granja dos Bichos iria ser associada como o fatal resultado de
uma revolução marxista.
Depois
de tomar o poder, surgem as regras e, logo, as primeiras divergências. Bola de
Neve acaba sendo expulso por Napoleão da Granja, que se torna o chefe supremo.
Napoleão então faz suas próprias regras, assessorado por Garganta, um porco
minúsculo mas muito enérgico que
convence os bichos a aceitarem as mais diversas falcatruas sob o argumento de
que, se não o fizessem, ‘Jones voltará’.
Comecei
a ler “A revolução...” por uma série de coincidências que nem devo explicar
aqui, para não alongar a resenha. Basta dizer que o livro chegou em minhas mãos
e que o li rapidamente, tanto pela história ser razoavelmente curta, quanto
pela linguagem, que também é muito simples. Como eu disse acima, se não fosse
todo o subtexto, poderia facilmente passar por uma fábula qualquer.
É
engraçado que um livro tão simples desperte tantas reflexões. Fui do ceticismo
com a tal “revolução”, até aquele sentimento de “eu sabia!” conforme o governo
se tornava mais e mais autoritário, passando por sorrisos e pesares. Uma das
cenas mais impactantes para mim, envolve o cavalo Sansão e, para mim, é um
divisor de água da história. Depois do que acontece com ele, comecei a lamentar
realmente pelos bichos: Sim, eles confiaram em que não deveriam e estavam se
submetendo aquelas condições precárias mas, no inicio, não tinham todos os
mesmo sonhos? Quase ninguém se lembrava, no entanto.
A
mensagem do final é clara e está também na contra capa do livro: Quem abre mão
da liberdade por uma promessa de segurança, acaba ficando sem os dois. A
maneira como isso ocorre, a ironia da situação e a desilusão dos bichos do lado
de fora daquela casa de fazenda, entrou para a minha lista de momentos
marcantes da literatura.
Recomendo
muito ‘A revolução dos bichos’, principalmente nesse período de eleições. Não o
li por esse motivo, mas é impossível não traçar um paralelo com o Brasil e
lembrar das ameaças de alguns políticos de que, se não forem eleitos, “a inflação
vai voltar”, “vão acabar com o bolsa família” e outras ameaças esdruxulas de pessoas que querem que o eleitor veja um inimigo em cada esquina.
Cada um vota em que acha melhor mas não posso deixar de me perguntar se algum dia não iremos terminar assim como os bichos da Granja do Solar, olhando nossos 'iguais' se esbaldando enquanto padecemos e descobrindo que, se todos os bichos são iguais, nesse tipo de 'revolução' alguns sempre acabam sendo mais iguais que os outros.
Olá, seja bem-vindo!
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