|FILME| 12 anos de Escravidão (Resenha / Review) #Oscar2014

quarta-feira, fevereiro 26, 2014 9 Comments A+ a-


      Solomon Northup é um cidadão proeminente do estado de Nova York. Um escravo liberto, ele e sua família tem uma vida, se não luxuosa, ao menos feliz e confortável. Solomon também é um excelente músico, o que traz renda extra para a família. Um belo dia dois homens o abordam com uma proposta praticamente irrecusável: Fazer algumas apresentações com o "circo" deles, tocando o seu violino, e com a garantia de um salário bem acima da média. Ele aceita e viaja com esses homens durante algumas semanas. 
      Após o que seria sua ultima noite, Solomon acorda semi-nu e algemado, sendo abordado por homens que não conhecem e que dizem que ele é um escravo fugitivo. Esse é o inicio de (literalmente) 12 anos de escravidão um dos principais favoritos ao Oscar desse ano.
       Logo no inicio desse filme lembrei de uma piada no Stand-up do comediante americano "Louis CK" em que ele diz que ser branco é muito melhor. Ele ressalta não querer dizer que os brancos são superiores apenas que "Ser branco" é algo que lhe dá vantagem. E cita um exemplo: Ele poderia viajar no tempo, para qualquer período do passado, e ainda sim seria bem recebido. 
        Me lembrei disso por que o personagem principal, Solomon, faz uma simples viagem, de um lugar para o outro, e, por conta do período em que ele vive (o ano é 1841) é obrigado a passar por essa situação. Apenas por ter dado o "azar" de ser negro, e estar sem os seus papéis que provavam sua liberdade
       No inicio, Solomon ainda tenta convencer as pessoas de que é um homem livre mas logo fica claro que permanecer em silêncio é a melhor opção. Em um mundo em que os negros são pouco mais que um animal (muitas vezes até menos) ninguém vai se interessar na história de um negro que sabe ler, tem conhecimentos que os outros não tem e jura ser livre. Então, embora não esquecido de quem é e nem de sua família (mulher e dois filhos) ele tem que fingir ser um escravo, tentando aproveitar as mínimas oportunidades de fuga. 
        Mas os anos os anos vão passando e nada de Salomon conseguir fugir. Pelo contrário, a situação dele só piora, quando Salomon é vendido para Edwin Epps, um cruel proprietário (interpretado por Michael Fassbender). Com Epps, Salomon passa a sofrer torturas físicas e psicológicas, ao longo de não um mais vários anos. 
        Chiwetel Ejiofor interpreta Salomon de maneira sensível, sem recorrer ao dramalhão e lágrimas infinitas para sustentar o desespero de seu personagem por sua situação. Michael Fassbender tem uma atuação digna de Oscar: De seu sotaque a todos os detalhes de seu cruel vilão, Fassbender conseguiu me fazer odiá-lo (mesmo continuando a achá-lo lindo no processo)Lupita Nyong'o interpreta uma escrava chamada Patsey, por quem Epps é completamente obcecado. Patsey é uma personagem muito sofrida sem qualquer esperança de saída ou redenção, Lupita mereceu todos os prêmios que ganhou por esse papel até agora e certamente é uma forte candidata ao prêmio no domingo. 
       Logo pela sinopse percebi que seria um filme que assistiria sem qualquer diversão, razão pela qual protelei até a ultima semana para assisti-lo. Agora que finalmente assisti, percebi que minha percepção estava correta. Não é um filme fácil de assistir, é muito triste, muito revoltante pensar em uma época, não muito tempo atrás, em que alguns seres humanos eram tratados de forma diferente somente pela cor de sua pele.
        No entanto, embora seja um filme difícil, é também um daqueles que todas as pessoas deveriam assistir. Não há catarse, não há alívio: Há apenas a reflexão da enormidade do que foi a escravidão nos Estados Unidos e na enormidade do dano causado a diversas gerações. Novamente cito o stand-up de Louis CK quando ele cita que os brancos podem ir em qualquer lugar... no passado. Ele (Louis) não se atreveria a ver o que acontece com os brancos no futuro por que "é claro que nós pagaremos por essa merda". Cito essa piada para mostrar o quanto o tema escravidão ainda é muito citado nos Estados Unidos, onde ainda há uma cultura de "nós negros", "eles brancos" (e vice-versa).  
"Pecado? Não existe pecado. Um homem faz o que quer com sua propriedade." - Edwin Epps
          Acredito que esse seja um dos motivos para que 12 anos de escravidão seja tão comentado e elogiado. Para vocês terem uma ideia esse filme será distribuído em escolas americanas, como material de estudo para os alunos. Essa é a enormidade de '12 anos de escravidão': um filme que foi feito comercialmente mas que está será utilizado como conteúdo em aulas de histórias, para que essa história real seja discutida em sala de aula. É um filme com um assunto sobre o  qual os americanos ainda precisam falar e discutir embora não seja necessário ser um americano para refletir sobre as consequências da escravidão para o mundo e para as pessoas da época. 
         Esses parágrafos acima foram um pouco fora da review mas são necessários para que vocês entendam que, embora não seja um filme que tenham me dado qualquer prazer em assistir, eu recomendo que todos vocês assistam. É importante, é um filme maior do que apenas um filme e também é (muito provavelmente) o vencedor do Oscar 2014. Por isso dou nota 8 - por que é um bom filme - e recomendo a todos que leram essa resenha que assistam 12 anos de Escravidão
                 Um filme difícil, porém necessário. 

|TRAILER|

12 anos de Escravidão concorre ao Oscar nas categorias: Melhor Filme, Diretor (Steve McQueen) Melhor Ator (Chiwetel Ejiofor), Melhor Ator Coadjuvante (Michael Fassbender), Melhor Atriz Coadjuvante (Lupita Nyong’o),  Melhor Roteiro Adaptado, Melhor figurino, Melhor design de produção e melhor edição 

Obs.: Louis CK, além de protagonista da série Louie é um dos principais nomes do Stand-up americano atual.  Para quem se interesssar, aqui o link da piada que citei na review. 

"My work always tried to unite the true with the beautiful; but when I had to choose one or the other, I usually chose the beautiful." -- Hermann Weyl Miss Carbono que é o numero 6 na tabela periodica

9 comentários

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Aline T.K.M.
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26 de fevereiro de 2014 às 22:13 delete

Esse é um filme que tenho muita vontade de ver. Geralmente gosto de filmes "indigestos", que colocam temas difíceis mas necessários. Não sei até que ponto ele vai, mas se for um daqueles filmes "tapa na cara", tenho certeza de que irei gostar.

Um beijão, Livro Lab

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26 de fevereiro de 2014 às 22:37 delete

O filme é exatamente assim. Impossível não ficar pensando na história depois de terminar de assistir. Assista sim, depois me conta o que achou :)

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Ana Leonilia
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1 de março de 2014 às 08:49 delete

Oi, Karol! :) Imaginei que o filme fosse forte. Lembrei até de um livro que li, "Cry Freedom", que aborda essa cruel realidade durante o aparthaid na África do Sul. Enfim, sei que "12 Anos de Escravidão" tem outro contexto, mas lembrei desse livro por causa da injustiça que predomina, sabe? Foi uma leitura difícil e revoltante também. Mas, como você mencionou na resenha do filme, terminei de ler com aquela sensação de leitura obrigatória, que faz refletir e merece ser lido por todos.

Não sei se vou assistir ao filme, porque sou muito sensível a histórias fortes, cujo os personagens sofrem de maneira ininterrupta. Não me sinto bem. Mas, quem sabe, eu tome coragem e assista um dia.

Ana Leonilia
http://literaturaecine.blogspot.com.br/

Bjs ;)

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Ana Leonilia
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1 de março de 2014 às 08:57 delete

Desculpa, eu quis dizer *Apartheid".

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1 de março de 2014 às 16:54 delete

Nunca tinha ouvido falar sobre esse filme, mas parece ser muito interessante

xx Carol
http://caverna-literaria.blogspot.com.br/

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Flávia
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2 de março de 2014 às 14:43 delete

Ainda não ouvi falar do filme, mas estou torcendo para a Lupita ganhar o oscar só pelo o que ouvi e uns trechos que eu vi (e, ainda por cima, ela é muito fofa, em todas entrevistas que ela deu, parece ser super divertida)
xx
Flávia
http://falando-serie.blogspot.com.br/

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Flávia
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2 de março de 2014 às 14:44 delete

*ainda não vi o filme, já ouvi falar, claro ahaha

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27 de março de 2014 às 09:19 delete Este comentário foi removido pelo autor.
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27 de março de 2014 às 09:20 delete

Oi Bicarbonato de Sódio UAHUSHAUSHAUSH só pra falar novamente que eu gostei do filme, mas não achei forte. Minha cara isso -.- </3

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