Com armas Sonolentas - Carola Saavedra
Lembro que quando li Torto Arado comentei no Clube do Livro da qual participo que, embora tal vertente não fosse muito explorada pelo autor, as personagens principais pareciam terem sido arrastadas pelo destino em direção ao papel que viriam a desempenhar no final da história. "É um mito grego", joguei eu citando algumas passagens que careciam um pouco de verosimilhança, a maioria delas envolvendo uma faca.
Eis que chega a próxima leitura do clube, Com Armas Sonolentas, e a sensação é de que o mito grego encontrou-se com Alice no PaÃs das Maravilhas, Dark e Rio de Janeiro, não necessariamente nessa ordem. A narrativa polifónica, como é descrita na sinopse, quase me derrubou - é difÃcil manter a tal suspensão da descrença a não ser que pensemos nessa história como um mito grego, ou melhor, um sonho/pesadelo com traços de mito, uma fita de mobius em que se misturam a vida dessas três protagonistas.
Nas notas da autora, vemos que houve referências a peça Medeia de Euripides. Medeia, a personagem grega que mata os próprios filhos para se vingar de Jasão, que a abandonou para se casar com uma princesa, sob o argumento de que ela seria "selvagem demais". Medeia que mata o irmão e abandona o próprio lar para seguir Jasão, que comete as maiores crueldades por esse homem a quem ama com loucura, só para ser então descartada. "Aprende o que custa renegar o sÃtio natal" diz Anna em sua peça, em referência a peça de EurÃpedes. Tal qual Medeia, as mulheres desse livro também são estrangeiras - "exóticas demais", "selvagem demais", "estranhas demais" - para o lugar em que vivem.
Na primeira parte temos a brasileira Anna, aspirante a atriz, que viaja a Alemanha para casar-se com um diretor famoso. Na segunda parte há Maike, alemã, que apesar de ingressar na faculdade pronta para cursar direito, acaba "caindo" nas disciplinas de português, lingua pela qual sente estranho fascÃnio. Por ultimo temos uma personagem feminina sem nome, que sai do interior onde vive com a mãe para trabalhar no Rio de Janeiro a troco do próprio sustento. Cada narradora tem voz, vivência e angústias caracterÃsticas mas o livro dá a entender que existe algo entre elas, algo inquebrável.
Eis que chega a próxima leitura do clube, Com Armas Sonolentas, e a sensação é de que o mito grego encontrou-se com Alice no PaÃs das Maravilhas, Dark e Rio de Janeiro, não necessariamente nessa ordem. A narrativa polifónica, como é descrita na sinopse, quase me derrubou - é difÃcil manter a tal suspensão da descrença a não ser que pensemos nessa história como um mito grego, ou melhor, um sonho/pesadelo com traços de mito, uma fita de mobius em que se misturam a vida dessas três protagonistas.
Nas notas da autora, vemos que houve referências a peça Medeia de Euripides. Medeia, a personagem grega que mata os próprios filhos para se vingar de Jasão, que a abandonou para se casar com uma princesa, sob o argumento de que ela seria "selvagem demais". Medeia que mata o irmão e abandona o próprio lar para seguir Jasão, que comete as maiores crueldades por esse homem a quem ama com loucura, só para ser então descartada. "Aprende o que custa renegar o sÃtio natal" diz Anna em sua peça, em referência a peça de EurÃpedes. Tal qual Medeia, as mulheres desse livro também são estrangeiras - "exóticas demais", "selvagem demais", "estranhas demais" - para o lugar em que vivem.
Na primeira parte temos a brasileira Anna, aspirante a atriz, que viaja a Alemanha para casar-se com um diretor famoso. Na segunda parte há Maike, alemã, que apesar de ingressar na faculdade pronta para cursar direito, acaba "caindo" nas disciplinas de português, lingua pela qual sente estranho fascÃnio. Por ultimo temos uma personagem feminina sem nome, que sai do interior onde vive com a mãe para trabalhar no Rio de Janeiro a troco do próprio sustento. Cada narradora tem voz, vivência e angústias caracterÃsticas mas o livro dá a entender que existe algo entre elas, algo inquebrável.
"Gostamos de imaginar que somos livres, completamente livres, mas isso não passa de ilusão, somos nossa herança, uma herança gravada nas palavras de nossos ancestrais"Carola Saavedra não dá respostas claras aqui por isso é bem aos poucos que vamos entendendo o que está se passando entre essas três narrativas, como uma se relaciona a outra. Quando se pensa que está entendendo o cerne da história, porém, algo acontece e você começa a se perguntar até que ponto aquilo que está lendo é mesmo real. "O que te dá tanta certeza de que você existe?", Max pergunta a Maike em determinado momento da história. O que nos dá a certeza de que essa história existiu, ou seja, que esses acontecimentos narrados realmente aconteceram na realidade dos personagens e não no delÃrio de um deles? Não há certezas aqui.
O final dá a sensação de que é necessário voltar ao começo, de que certamente algo foi perdido no meio, de que esse não pode ser o final. Mais perguntas que respostas se somam, algo obviamente proposital mas que deixa um leve sentimento de frustração. Particularmente, mesmo reconhecendo a riqueza de repertório, técnica e estilo da autora não posso dizer que gostei de ler Com armas sonolentas. Claro, isso fala muito mais sobre mim que sobre o livro, talvez não li no momento correto ou me falte algum tipo de preparo, talvez com o tempo o livro "cresça" para mim.
Por hora recomendo àqueles que querem conhecer uma escritora talentosa, personagens e enredos que a principio aparecem ser simples mas que contem algumas várias camadas. Nota 3/5
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