|RESENHA| O Conde de Monte Cristo - Alexandre Dumas #DesafioLivrada

sexta-feira, julho 01, 2016 0 Comments A+ a-

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   Edmond Dantes é um jovem marujo, com o futuro pela frente. Filho devotado, a primeira coisa que faz depois que chega de viagem é ir ver seu pai, único parente visto que tem. A segunda coisa é ver Mercedes, sua amada. Edmond pretende se casar com Mercedes o mais rápido possível, antes de voltar novamente para o mar... Porém um colega de navio invejoso e um ex-pretendente enfurecido tramam um plano para impedir a felicidade deste casal. 
   Até mesmo quem não conhece ou leu O Conde de Monte Cristo já deve ter visto sua história por aí, disfarçada em algum filme, série ou HQ. Quem não reconhece a história do jovem com futuro promissor que, após ser traído e perder tudo, retorna mais poderoso e buscando vingança? Teria esse livro se tornado tão popular a ponto de ter transcendido suas páginas ou essa temática sempre fez parte do imaginário coletivo? Não sei e não importa muito: por um motivo ou por outro o tema central deste livro já era reconhecido por mim bem antes de lê-lo. 
   A primeira parte, que conta todos os infortúnios de Dantés, é certamente a melhor de todo o livro. Desde a sua felicidade e súbita infelicidade até seu escape da prisão e encontro dos tesouros prometidos pelo seu colega de cela, o Cardeal Spada, tudo é contado com tal energia que tira o fôlego do leitor. Eu fiquei revoltada, eu quis xingar, eu me empolguei. Desde a primeira parte senti que estava lendo algo especial mas, naquela primeira parte, achei que finalmente havia encontrado meu livro favorito da vida. 
   O que se seguiu não diminuiu a qualidade da história, a segunda parte começa tão emocionante quanto a primeira. Foi o único momento do livro que me fez chorar e, talvez pela primeira vez em um livro, chorar de pura felicidade. O 'arco' em que Dantés ajuda o senhor Morrel continua sendo um dos meus favoritos do livro e é um dos poucos em que vemos o protagonista fazer algo bom sem esperar nada em troca. Logo depois disso Dantés parte para se tornar O Conde de Monte Cristo e a coisa fica mais séria e pesada. 
   Justamente nesse momento passamos a ver a história sob a perspectiva de certo Franz, que conhece O Conde de Monte Cristo em condições muito misteriosas. Da-se início então a uma parte bem maçante, é como se estivéssemos sendo novamente apresentados ao personagem principal, mas sob uma nova perspectiva. É uma parte um tanto prolixa e cheia de referências as Mil e Uma Noites e a autores gregos, além do ar meio gótico que o autor dá a trama, tentando transformar Monte Cristo em uma espécie de vampiro. 
   Certamente não é meu momento favorito, mas até mesmo aqui é possível ver o talento do autor. Dumas é o tipo de escritor com o qual eu gostaria de tomar um café e perguntar de onde vem tantas histórias, qual o seu processo criativo... É tanta coisa que acontece nesse livro, tantos personagens indo e vindo a todo momento, cada um com sua história de vida e sua sub-trama, que cheguei a imaginar O Conde de Monte Cristo com muito mais que suas mais de 1600 páginas. Eu certamente gostaria de ler mais, tamanho meu apego pelos personagens. 
   Falando em personagens, é na parte 3 que são inseridas as principais "peças do tabuleiro", por assim dizer. Temos Dantés/Conde, que agora é um homem amargurado e frio, que usa uma mascara de riqueza e futilidade para mascarar suas cruéis intenções. Temos Danglas, Fernand e Villefort, os principais autores da injustiça contra Dantés e as principais vítimas de suas maquinações; são homens mais ou menos odiosos da qual é impossível ter qualquer compaixão (com exceção de Villefort, em momento bem especifico). 
   Temos também os parentes desses três antagonistas do Conde. A filha de Danglars, Eugenie, está prometida para se casar com o filho de Fernand e Mercedes, Albert. A filha de Villefort, Valentine, está apaixonada pelo filho do sr. Morrel, a única pessoa que tentou ajudar Edmond em seus anos de infortúnio. Todos esses personagens se relacionam entre si e ainda nem citei outros tantos personagens que aparecem nessa história, inclusive um tal Benetto, fruto de uma indiscrição de um dos antagonistas de Monte Cristo. 
   Ã‰ incrível que, com tanta coisa acontecendo, Dumas ainda consegue criar emoções e interesse no leitor. A cada página eu ficava mais empolgada com a história e com os personagens e acontecimentos. É porque estava lendo a edição física e não sou do tipo que marca mais livros físicos, do contrário teria marcado esse livro quase no todo, tamanha a quantidade de cenas e trechos que considerei espetaculares, emocionantes ou memoráveis.
   Depois dessa primeira parte nós só ficamos sabendo dos sentimentos do personagem principal em momentos-chave e no final mas nem por isso deixei de gostar e torcer por ele. A terceira parte é um deleite, com Monte Cristo voltando a sociedade e sendo reconhecido apenas por Mercedes, agora esposa de Fernand. Mas a quarta parte é aquela em que a vingança finalmente começa a ser posta em pratica e eu não consegui ler rápido o bastante. Tirando a primeira parte, creio que a terceira e quarta partes tenham sido o ápice do livro para mim. 
     A quinta parte tinha tudo para ser a melhor de todas, a começar por uma conversa emocionante entre Mercedes e Monte Cristo, outra das minhas cenas xodó nesta história. Meu coração disparou como se fosse eu naquele momento e atribuo isso não só a minha torcida por esse casal mas também a escrita espetacular de Dumas. Este autor costuma ser muito subestimado pelos críticos mas, como sou apenas uma leitora, pude me deleitar com sua escrita com ares de "novelão" sem me sentir culpada ou pouco intelectualizada. 
     Infelizmente, depois dessa cena incrível que citei acima, acontece algo que me deixou bem, mas bem chateada. Lembram que eu disse que passei o livro todo shippando Edmond e Mercedes? Pois é, não posso entrar em detalhes, mas algo aconteceu nessa parte do livro que fez meu shipp afundar (sem trocadilhos). Depois disso o livro perdeu parte do sabor: antes achava que o ódio e fúria de Edmond se devia a ter perdido tudo, sim, mas principalmente a perda da mulher amada. Depois que do que li, cheguei a conclusão de que Edmond era um personagem rancoroso e fim. Nada poderia dissuadi-lo de sua vingança, não haveria nada do final feliz que vemos no filme, por exemplo. 
   Depois disso dei uma parada com o livro, só retomando porque eu queria muito saber o final da trama e porque eu estava pirando com o livro até aquele momento, não poderia deixar um mero detalhe (um detalhe chamado Haydeé) estragar minha leitura. 
   Minha retomada da história foi uma ótima decisão pois fui brindada com um dos momentos mais progressistas da história; vocês podem dizer que não mas para mim Eugénie não só é uma personagem homossexual em um clássico, como também é uma das poucas a ter um final (mais ou menos) agradável. Queria que o autor tivesse parado no final da parte cinco a falar sobre tal personagem mas a parte 6 nos mostra que, sim, Dumas é um fruto de sua época (e, portanto, machista). 
   A conclusão da história, parte 6, é feliz e triste ao mesmo tempo. Foi interessante chegar até aqui e me ver, assim como Dantés, questionando todos esses propósitos de vingança. Teria sido demais? Teria sido justo? Edmond tem dois momentos de incerteza nessa parte, devido a um acontecimento especialmente dramático e muito pesado que ocorre perto do desfecho. Foi interessante ver ele tentando justificar suas atitudes retornando ao Castelo de If e também doloroso assisti-lo "virando o rosto" para uma parte do seu passado. 
   Nesse momento é que digo que Dumas foi machista, porque, apesar de não saber ou participar de nada, Mercedes tem um desfecho que soa tão melancólico quanto os dos rivais de Monte Cristo. Mercedes foi punida porque tentou ser feliz e continuar com a vida, após achar que seu amado estava morto. Irônico é que ela sequer foi feliz desta forma,  pois a lembrança de Edmond foi sombra constante em seu casamento. O autor, no entanto, não parece muito generoso com tal sofrimento e é muito triste ver que Edmond tão pouco.
   O último capítulo nos traz uma das frases mais bonitas do livro "Esperar e ter esperança". Isto é, sempre ter fé de que dias melhores virão. Porém, não sei se esse é o caso do Conde de Monte Cristo; concluindo a história tive a sensação de que a personagem nunca poderá ser feliz de novo depois do que fizeram para ele. Nem a vingança pareceu trazer satisfação suficiente, suscitando dúvidas e arrependimentos ao invés da satisfação almejada. 
   Mas o Dumas foi mais bondoso com Monte Cristo que com Mercedes e o leitor pode pensar que há um happy ending ali. De minha parte, concorda com uma resenha que li no Skoob, da usuária Raquel Andrade, que diz que, embora tenha escapado da prisão de If, Dantés continuou preso pelos grilhões da vingança. 
   Enfim, é um baita livro, não só pela quantidade de páginas mas pela história e reflexão que nos traz. Gostei muito da escrita do autor; apesar de algumas vezes me decepcionar ele conseguiu emocionar e trazer esperança para o seu final, algo que admiro muito nos livros que leio. Certamente quero ler mais coisas de Dumas e recomendo se quiser um clássico que não parece um clássico, tamanha a diversão que se tem lendo
    Minha nota é 9,5 - tirei meio ponto por causa dessa minha frustração com o destino de uma das personagens mas acho esse livro tão fantástico que pretendo rele-lo em algum momento da minha vida. 

    
P.S.: Fiz diário de leitura desse livro no Tumblr.

Nascida no interior de SP, formada em Publicidade e Propaganda, sempre gostou de dar palpites sobre filmes, séries, animes, livros e o que mais assistir/ler. Autora do Blog "Resenhas e Outras Cositas Más" (Miss Carbono) e "Coisas de Karol". No Twitter fala de política, séries e da vida (não necessariamente nessa ordem). Siga: @karolro


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