As Ondas - Virginia Woolf
A vida de seis amigos, que cresceram e estudaram juntas e narrado em uma série infinita de monólogos dos próprios personagens. Jinny, Susan, Rhoda, Neville, Louis e Bernard parecem ter pouca coisa em comum mas são, simultaneamente, protagonistas e narradores de suas próprias histórias e das histórias um dos outros.
Meu receio em ler Virginia Woolf era me sentir tão confusa como quando eu li Clarice Lispector. Quando descobri que esse seria o livro do mês no clube do livro que participo quase tive um treco. Já previ um mês de terror, lendo uma história da qual não conseguia entender nada.
Resolvi encarar, mesmo com todos esses receios. A primeira coisa que fiz, antes de começar "As Ondas" foi ler algumas resenhas e sinopses da história para saber do que falava o livro exatamente. Reconhecendo a minha dificuldade de acompanhar esse tipo de narrativa, mais fragmentado, achei uma boa ideia ter uma noção do que fala o livro antes de começar.
Enquanto lia as resenhas (nunca resumos, não gosto de spoiler) e ao descobrir a forma como livro era estruturado (diálogos) e os personagens que faziam parte dele, decidi fazer uma espécie de fichamento. Aproveitei que estava lendo no Kindle e, conforme os personagens iam aparecendo e fazendo coisas ia construindo anotações sobre cada um. Jinny beijou Louis, Susan ficou com ciúme, Bernard deixou Neville sozinho e foi atrás de Susan, enquanto Rhoda ainda estava na sala de aula e nada viu. Essas anotações foram fundamentais no começo da história, para separar quem era quem, mas, conforme o livro prosseguia percebi que não era mais necessário continuar alimentando esses registros.
É muito legal pegar o livro que você não entende nada e perceber que, aos poucos, as coisas vão ficando mais claras pra você. Toda essa minha preparação teve um pouco a ver com o resultado mas o mais importante foi ter, desde o inÃcio, a consciência de que nem tudo eu iria entender 100% ou seria narrado da forma cronológica a qual estou acostumada. Essa constatação meio que tira um peso das costas - como disse uma colega "esse não é um livro para se entender com a cabeça e sim com o sentimento". E foi assim mesmo que eu passei a entender "As Ondas".
Gosto muito do tÃtulo desse livro porque tem muito a ver com a narrativa, sempre fluindo de um personagem ao outro, como se uma série de ondas estivessem arrebentando na praia, uma após a outra, num ritmo tranquilo e natural. Os diálogos/monólogos dos personagens se sucedem um ao outro dessa mesma forma, como ondas. E assim, os anos vão se passando muito rapidamente.
Cada personagem tem uma maneira de ser, de encarar a vida. Louis, por exemplo, é um perfeccionista, Jinny é uma moça simples, quer ser amada - e assim, todos tem sua própria história. O que une todas essas pessoas não é bem a amizade que tem entre si, mas o amor que todos sentem por Percival. Ironicamente, Percival é o único personagem citado que não tem sua própria voz interior.
De todos, Bernard talvez seja aquele que é mais apegado aos outros. Carecendo de um sentido para sua própria vida ele visita os amigos, sente necessidade de revê-los. Sem os amigos Bernard é fluido, carece de propósito e personalidade. E é Bernard quem encerra a história, em um monólogo maior que todos os outros, onde lembra a sua vida e também um pouco a de seus amigos.
Nesse desfecho dá pra se imaginar muitas coisas, além do próprio fim que cada personagem teve. A sensação, nesse momento, é que cada um dos personagens é uma faceta da própria autora, ou até mesmo de Bernard; todos eles na verdade são como um só.
Pesquisando para essa resenha, descobri que essa é a sensação que a autora quis passar, que todos esses personagens são facetas de uma só pessoa. Gostei bastante disso, fiquei pensando em uma única pessoa que tem tantas outras dentro de si.
Admito que não entendi 100% de "As Ondas" mas é um livro que me fez sentir muito e, por isso, recomendo. Pretendo reler mais pra frente - quem sabe não consigo captar um pouco mais?
Nota 8 - bom livro
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