O Estrangeiro - Albert Camus
Nenhum sofrimento me comove
Nenhum programa me distrai
Eu ouvi promessas e isso não me atrai
E não há razão que me governe
Nenhuma lei prá me guiar
Eu 'to exatamente aonde eu queria estar
(...)
A minha alma nem me lembro mais
Em que esquina se perdeu
Ou em que mundo se enfiou
Mersault é o
jovem narrador do estranho livro chamado “O Estrangeiro”, do autor Albert
Camus. Porque uso o termo estranho ao tratar desse livro? Porque, embora tudo
pareça tudo muito normal e corriqueiro algo também parece muito esquisito durante
toda a trama.
Não é como se houvesse
algum fato futurista ou fantástico. O estranho mesmo é o comportamento do
narrador/protagonista Mersault. Um homem aparentemente comum, com um trabalho
comum, pessoas que conversam com ele e o chamam de amigo, uma mulher que o
chama de namorado. Tudo corriqueiro – a não ser pelo fato do narrador ser
apático a tudo.
A canção Deja
vú da cantora Pitty, cujo trecho foi colocado no inicio dá uma ideia de como
reage esse personagem a tudo o que está a sua volta. O primeiro parágrafo é icônico
e dá bem o tom de toda a trama:
“Hoje mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem.”
Percebe-se
desde o primeiro momento a indiferença de Mersault com a noticia e o mesmo se
repete ao longo de toda a narrativa. A morte de sua mãe, o encontro com uma
namorada, seu vizinho espancando o cachorro, nada o abala. Nem mesmo a ideia de
uma promoção, de ir morar em Paris a trabalho parece capaz de esboçar qualquer
reação de Mersault. Nem mesmo rir esse personagem consegue, é como se estivesse
algo nele fechado para o mundo, um abismo que a realidade não consegue transpor.
Como uma
espécie de Bartleby emocional (ao invés de “prefiro não faze-lo”, temos o “prefiro
não senti-lo”), vemos esse personagem se metendo em uma série de situações
moralmente duvidosas na parte 1 até que, ao final desta, ele comete o ato mais
impensável possÃvel: mata um homem, sem motivo algum.
Peço perdão
caso considerem isso um spoiler, mas está na orelha do livro. De toda forma,
nem mesmo matar um homem a sangue frio e sem razão provoca uma reação de
Mersault. Na verdade, só há um momento da trama em que vemos algum tipo de
emoção e essa emoção é a fúria do personagem quando alguém lhe diz que vai
rezar por ele.
O que é
Mersault? Qual o significado dessa história e dessa vida aparentemente carente
de propósito? Camus parece estar querendo fazer uma metáfora aqui e, me arrisco
a dizer, a mensagem talvez seja a de que – no nosso mundo sem raÃzes e sem
pensamento crÃtico que vivemos hoje – temos todos um pouco de Mersault. É muito
fácil levar a vida no automático, não refletindo ou pensando sobre nada, apenas
comendo, dormindo e aproveitando tudo o que podemos. Sem moralidade, sem
imoralidade, apenas aquela indiferença eterna, no trabalho, na vida, nos
relacionamentos. Talvez seja por isso que o livro seja tão perturbador, afinal:
é muito fácil se tornar um Mersault.
Ou talvez não
seja nada disso e a mensagem de Albert Camus seja outra completamente
diferente. Mas deixo aqui minhas reflexões e recomendo o livro para que você
também tire as suas. Não sei exatamente se gostei dO Estrangeiro, mas quero ler
outras coisas do autor.
Se for preciso
dar uma nota: 8. Até a próxima.
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