|Resenha| Carol - Patricia Highsmith

sexta-feira, novembro 27, 2015 4 Comments A+ a-


                Therese é uma jovem de 20 anos, trabalhando num emprego que odeia na véspera do Natal. Ela tem uma vida mais ou menos, um namorado mais ou menos e detesta interagir com gente mais velha que ela (para ser mais claro: idosos).
                Em um dia como outro qualquer, enquanto trabalha na sessão de bonecas do seu emprego mais ou menos, Therese avista Carol. Inútil dizer aqui que a jovem desenvolve imediatamente uma especie de obsessão por essa mulher mais velha, misteriosa, e tão diferente de Therese.
                Baixei esse livro há alguns meses, quando li comentários sobre o filme que seria lançado no final desse ano. Até então eu nunca tinha lido nada da Patricia Highsmith mas fiquei curiosa em saber como essa escritora, que para mim só escrevia suspense, teria escrito uma história de amor, ainda mais uma história tão pouco convencional como essa (para o ano em que foi escrita, nos anos 50).
                Sabe aqueles romances de banca? Júlia, sabrina, bianca? Eu já li muitos livros desses e, numa análise a primeira vista, Carol parece um livro nesse estilo: uma mocinha jovem e ingênua narrando como é se apaixonar por uma pessoa muito diferente e enigmática. A mocinha sofre em silêncio pois não sabe se seus sentimentos são recíprocos e faz tudo o que essa outra pessoa manda, por simples prazer em agradar.
                Seria apenas mais um "Sabrina" com personagens homossexuais se não fosse pela escrita da autora, deliciosa e viciante , com reflexões sobre a vida o universo e tudo o mais , as pessoas e seus sentimentos, sobre como o tempo e as formas de amor. Quero ler tudo o que Highsmith escreveu, mesmo sabendo que esse tema não aparece em outra de suas obras, simplesmente porque amei a maneira como ela escreve. A personagem, Therese, é meio exagerada mas o livro é mais marcantes pelas suas reticências do que por suas exclamações. As protagonistas da história não tem nenhuma discussão profunda (a não ser por cartas) e tudo fica muito nas entrelinhas - não dá para saber o que Carol está pensando e, mesmo depois que as duas engatam o relacionamento, há ainda muito coisa no ar entre elas.
                Junte isso ao fato de que, nas últimas páginas, o livro toma rumos inesperados e consegue, mesmo com os clichês, surpreender o leitor. Pense em um desenvolvimento de personagem plausível e interessante e você vai ter uma ideia do que acontece a poucas páginas do final. É um romance que tinha vários pontos de questionamento, que parecia se encaminhar para um baita clichê depressivo (como era comum na literatura homossexual da época) e de repente dá uma baita de uma virada e oferece possibilidades. Isso sem contar os trechos que antecedem esse desfecho, com palavras lindas sendo trocadas e pensadas - dá vontade de sair grifando tudo, porque é muito bonito o que Therese e Carol pensam e/ou escrevem nesses momentos antes do fim.
                Porque, se existe algum valor nesse romance escrito a tantos anos atrás, ele só pode ser encontrado através da contextualização: uma autora que escreve uma história em que duas mulheres se apaixonam e em que a) ninguém morre b) ninguém "vira" hetero c) ninguém é castigado por sua orientação, tudo isso em 1948, quando a homossexualidade ainda era considerado um desvio passível de internação em manicômio... Uma autora que se dispõe a publicar esse livro - mesmo que sob pseudônimo - e coloca neles reflexões que são verdadeiras defesas de uma orientação sexual considerada pervertida, que mostra que essas pessoas não precisam de tratamento e que elas são mais comuns do que se pensa... Essa é uma história que vale a pena ser lida.
                Então bem, chegando ao final dessa resenha, quero dizer agora o oposto do que eu disse antes. Na verdade, Carol é bem um "Sabrina" (ou "Bianca, ou "Julia") com protagonistas mulheres... e é aí que está a genialidade da história, mostrar a sociedade da época que casais homossexuais são a coisa mais normal do mundo - e mostrar aos gays e lésbicas que certamente existiam naquele período que não há nada de errado em serem quem são.

                Dei nota 9 para Carol - é um livro bem curtinho mas muito bom, dentro daquilo que se propôs (e considerando todo o contexto da obra). Mal vejo a hora de conferir a adaptação. 

"My work always tried to unite the true with the beautiful; but when I had to choose one or the other, I usually chose the beautiful." -- Hermann Weyl Miss Carbono que é o numero 6 na tabela periodica

4 comentários

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krou
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6 de fevereiro de 2016 às 19:24 delete

Gostei da resenha! Acabei de terminar de ler. Haha. E acho que deve-se citar a coragem delas!!! Como agiram e escolheram sem medo ou com (porque isso é coragem!) Muito bom!!!!!

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krou
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6 de fevereiro de 2016 às 19:24 delete

Gostei da resenha! Acabei de terminar de ler. Haha. E acho que deve-se citar a coragem delas!!! Como agiram e escolheram sem medo ou com (porque isso é coragem!) Muito bom!!!!!

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13 de fevereiro de 2016 às 23:37 delete

Também achei as personagens muito corajosas, Karol (minha chará kkk) principalmente Carol, que praticamente abriu mão da filha para ser quem ela é... Já assistiu ao filme? Se não, recomendo muito, complementa bastante o livro :)
Teh mais!

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krou
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12 de abril de 2016 às 18:39 delete

Ahaha então, chará duas vezes!!! E no meu caso o livro foi consequência do filme, vi o filme primeiro, mas obrigada!!! Até!

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