|Resenha| Carol - Patricia Highsmith
Therese
é uma jovem de 20 anos, trabalhando num emprego que odeia na véspera do Natal.
Ela tem uma vida mais ou menos, um namorado mais ou menos e detesta interagir
com gente mais velha que ela (para ser mais claro: idosos).
Em
um dia como outro qualquer, enquanto trabalha na sessão de bonecas do seu
emprego mais ou menos, Therese avista Carol. Inútil dizer aqui que a jovem
desenvolve imediatamente uma especie de obsessão por essa mulher mais velha,
misteriosa, e tão diferente de Therese.
Baixei
esse livro há alguns meses, quando li comentários sobre o filme que seria lançado
no final desse ano. Até então eu nunca tinha lido nada da Patricia Highsmith
mas fiquei curiosa em saber como essa escritora, que para mim só escrevia
suspense, teria escrito uma história de amor, ainda mais uma história tão pouco
convencional como essa (para o ano em que foi escrita, nos anos 50).
Sabe
aqueles romances de banca? Júlia, sabrina, bianca? Eu já li muitos livros
desses e, numa análise a primeira vista, Carol parece um livro nesse estilo:
uma mocinha jovem e ingênua narrando como é se apaixonar por uma pessoa muito
diferente e enigmática. A mocinha sofre em silêncio pois não sabe se seus
sentimentos são recÃprocos e faz tudo o que essa outra pessoa manda, por
simples prazer em agradar.
Seria
apenas mais um "Sabrina" com personagens homossexuais se não fosse
pela escrita da autora, deliciosa e viciante , com reflexões sobre a vida o
universo e tudo o mais , as pessoas e seus sentimentos, sobre como o tempo
e as formas de amor. Quero ler tudo o que Highsmith escreveu, mesmo sabendo que
esse tema não aparece em outra de suas obras, simplesmente porque amei a
maneira como ela escreve. A personagem, Therese, é meio exagerada mas o livro é
mais marcantes pelas suas reticências do que por suas exclamações. As
protagonistas da história não tem nenhuma discussão profunda (a não ser por
cartas) e tudo fica muito nas entrelinhas - não dá para saber o que Carol está
pensando e, mesmo depois que as duas engatam o relacionamento, há ainda muito
coisa no ar entre elas.
Junte
isso ao fato de que, nas últimas páginas, o livro toma rumos inesperados e
consegue, mesmo com os clichês, surpreender o leitor. Pense em um
desenvolvimento de personagem plausÃvel e interessante e você vai ter uma ideia
do que acontece a poucas páginas do final. É um romance que tinha vários pontos
de questionamento, que parecia se encaminhar para um baita clichê depressivo
(como era comum na literatura homossexual da época) e de repente dá uma baita
de uma virada e oferece possibilidades. Isso sem contar os trechos que
antecedem esse desfecho, com palavras lindas sendo trocadas e pensadas - dá
vontade de sair grifando tudo, porque é muito bonito o que Therese e Carol
pensam e/ou escrevem nesses momentos antes do fim.
Porque,
se existe algum valor nesse romance escrito a tantos anos atrás, ele só pode
ser encontrado através da contextualização: uma autora que escreve uma história
em que duas mulheres se apaixonam e em que a) ninguém morre b) ninguém
"vira" hetero c) ninguém é castigado por sua orientação, tudo isso em
1948, quando a homossexualidade ainda era considerado um desvio passÃvel de
internação em manicômio... Uma autora que se dispõe a publicar esse livro -
mesmo que sob pseudônimo - e coloca neles reflexões que são verdadeiras defesas
de uma orientação sexual considerada pervertida, que mostra que essas pessoas
não precisam de tratamento e que elas são mais comuns do que se pensa... Essa é
uma história que vale a pena ser lida.
Então
bem, chegando ao final dessa resenha, quero dizer agora o oposto do
que eu disse antes. Na verdade, Carol é bem um "Sabrina" (ou
"Bianca, ou "Julia") com protagonistas mulheres... e é aà que
está a genialidade da história, mostrar a sociedade da época que casais
homossexuais são a coisa mais normal do mundo - e mostrar aos gays e lésbicas
que certamente existiam naquele perÃodo que não há nada de errado em serem quem
são.
Dei
nota 9 para Carol - é um livro bem
curtinho mas muito bom, dentro daquilo que se propôs (e considerando todo o
contexto da obra). Mal vejo a hora de conferir a adaptação.
4 comentários
Write comentáriosGostei da resenha! Acabei de terminar de ler. Haha. E acho que deve-se citar a coragem delas!!! Como agiram e escolheram sem medo ou com (porque isso é coragem!) Muito bom!!!!!
ReplyGostei da resenha! Acabei de terminar de ler. Haha. E acho que deve-se citar a coragem delas!!! Como agiram e escolheram sem medo ou com (porque isso é coragem!) Muito bom!!!!!
ReplyTambém achei as personagens muito corajosas, Karol (minha chará kkk) principalmente Carol, que praticamente abriu mão da filha para ser quem ela é... Já assistiu ao filme? Se não, recomendo muito, complementa bastante o livro :)
ReplyTeh mais!
Ahaha então, chará duas vezes!!! E no meu caso o livro foi consequência do filme, vi o filme primeiro, mas obrigada!!! Até!
ReplyOlá, seja bem-vindo!
Pode falar o que quiser do filme, livro ou texto - só peço que tome cuidado para não ofender os outros leitores do blog. Nada contra palavrões mas também não vamos exagerar, ok?
Obrigada!