|RESENHA| A Esperança (Jogos Vorazes #003)

sexta-feira, agosto 14, 2015 0 Comments A+ a-






Atenção: Esse post NÃO contem spoilers de "A esperança". Porém, por se tratar de uma sequência, pode haver spoilers dos livros anteriores (Jogos Vorazes e Em Chamas)






   O terceiro volume da trilogia Jogos Vorazes começa com Katniss visitando o distrito 12 (ou o que sobrou dele) e vendo toda a destruição que o presidente Snow causou naquele lugar. Agora totalmente destruido, o 12 serve apenas como um cemitério a céu aberto de milhares de corpos. Katniss ainda está se recuperando dos ferimentos físicos e emocionais que sofreu no Massacre Quaternário mas naquele momento, depois de passado um certo tempo vivendo praticamente como um zumbi pelos corredores dos distrito 13, é que ela começa a entender a necessidade da guerra e de derrubar o governo déspota da Capital. Mas ela ainda reluta em assumir o papel de "Tordo" da revolução, em ser o rosto dos rebeldes. Isso até ver a entrevista de Peeta (que fora capturado pela Capital) em que esse manifesta-se contra a revolução e a favor da Capital. Ela não sabe por que Peeta está fazendo isso mas entende que precisa assumir logo o seu papel antagonista ao dele, do contrário a rebelião perderia a força. 
   Eu tive muitos, mas muitos problemas lendo esse livro. Para vocês terem uma ideia, ganhei ele em Janeiro de 2014, comecei a ler em outubro daquele mesmo ano e só fui ter forças para terminar agora, em 2015. Acho que a base desse problema foi o fato de que, enquanto eu lia o livro, não consguia deixar de pensar "Qual a necessidade disso?" várias vezes em um loop eterno. A autora usou a mesma fórmula nos 3 livros e, no terceiro, isso começou a me irritar.

 A fórmula? Segue abaixo: 

Começo do livro: Nada acontece a não ser as reflexões da personagem a respeito da vida, do universo e tudo mais. São paginas e paginas de Katniss descrevendo coisas e conversas absolutamente desimportantes para a história. 
Meio do livro: Uma ou outra cena de ação ou de algum interesse mas recheadas de mais páginas de reflexões. Normalmente aqui vemos Katniss numa situação em que a deixa desconfortável: no primeiro, foram as entrevistas e eventos antes do jogos, no segundo as entrevistas e eventos pré Massacre Quaternário e, no último, todas as suas atribuições como "O tordo" (que é quase como se ela fosse uma super star ou coisa assim.
Final do livro: quando a treta realmente começa e quando muitas pessoas morrem. 

   Quando vi todo o mimimi do começo logo percebi que ainda levariam muitas e muitas páginas até a ação começar de verdade. E eu sabia que pouca coisa ali seria realmente importante para a história então tive que me conter para não revirar os olhos, principalmente nas partes em que Katniss fica pensando em Peeta ou em Gale ou quando ela repetia pela décima quinta vez o quanto se sentia mal em representar o Tordo e que a presidente Coin estava usando ela tanto quanto Snow a usou nos dois primeiros livros. Sério, a quantidade de mimimi nesse livro é absurda - ou talvez fosse apenas eu, que nunca tive muita paciência com o gênero YA e estava me obrigando a ler esse terceiro livro antes do filme ser lançado.
   Depois da metade, mais precisamente depois da cena que acontece no final de "A esperança parte 1" a coisa dá uma melhorada, as batalhas realmente começam a acontecer. Mas o livro já tinha me irritado tanto que acabei abandonando e só retomando agora no meio desse ano, e terminei em mais duas semanas.
  Vale dizer que, nesse momento, eu já tinha spoilers dos dois principais eventos do livro (me contaram dois personagens importantes que morriam. Obrigada pessoas.) então não esperava muita coisa. Com essa expectativa mais baixa, minha leitura melhorou bastante. Por que não demorou muito para a "treta" realmente começar e coisas interessantes começarem a acontecer.
   Mas vamos aos personagens. Katniss é uma personagem que sempre gostei e desgostei ao mesmo tempo. Nos livros ela me irritava profundamente, nos filmes ela era phodástica. Nesse terceiro livro não há diferenças, continuei tendo momentos em que eu gostava dela e outros nem tanto (tenho certeza que vou amá-la no filme). Mas deu pra perceber uma mudança da personagem aqui: não mais a luta pela sobrevivência, na verdade, em muitos momentos Katniss pouco se importa se vai morrer ou não - ela só quer vingança e proteger seus entes queridos.
   Gale e Peeta, no entanto, mudaram mais. Gale está obcecado com a guerra, com vingar seus distrito e as pessoas que ele viu serem mortas. Ele ainda quer Katniss mas não vejo ele disposto a conquistá-la (alguma vez ele já tentou?) estando, na maioria das vezes, mais como amigo do que como interesse amoroso - isso quando ele não parece estar é bem chateado com ela. Já Peeta está bem mudado, a guerra não foi boa com ele (isso é tudo o que vou dizer) - e não é que Katniss resolveu sentir falta do antigo Peeta justamente quando ele não existe mais?
   Ao mesmo tempo em que tenta desembrulhar o "triângulo amoroso" - entre aspas por que a gente sabe como vai terminar - a heroína ainda tem que agir como o Tordo e encontrar uma forma de conseguir matar o presidente Snow, para concluir a sua vingança pela destruição do 12. É interessante observar que, embora tenha sido irritante vê-la repetir várias e várias vezes ao longo da história, Katniss está certa: qual é realmente a diferença entre a presidente Coin e Snow?
   Apesar de ser um YA e de seguir algumas fórmulas que não me agradaram por enrolar demais a história, tenho que admitir que Suzanne Collins tem algumas ideias muito boas. Esse terceiro livro, por exemplo, está repleto delas, como a "mudança" do Peeta, e algumas decisões sobre o destino dos personagens. A resolução do triângulo amoroso foi algo que fugiu do tradicional clichê "transformar o outro num vilão" ou "arrumar uma quarta pessoa" e eu achei muito interessante do ponto de vista intelectual, embora tenha me deixado meio dúbia (Katniss NÃO escolheu, vocês perceberam?).
   Quanto ao fim da Guerra, aquelas ultimas páginas me deixaram com o coração na mão. Não posso dar spoiler (droga!) mas é de partir o coração, mesmo que já soubesse. No entanto, esse evento X foi o catalisador para uma outra coisa que muda totalmente os rumos da revolução: Então até mesmo na hora de f... com um personagem, Suzanne fez com propósito, para que o outro pudesse tomar uma decisão que, de outra forma, não tomaria.
   No entanto, o ultimo capitulo e o epílogo foram um anti-clímax para mim. Se na construção do desfecho da Guerra, Collins foi realista e coerente, esses dois capítulos pareceram algo feito meio "nas coxas". Algumas partes fizeram muito sentido para mim, como o sentimento de Katniss no ultimo capítulo, mas a autora foi um pouca ingênua nesse Happy Ending agridoce que criou. Depois desse ato X, tudo se resolve rápido demais e é narrado de forma meio dispersa e corrida, que podemos atribuir ao fato da protagonista-narradora não estar presente durante esses fatos.
   O Epílogo, que deveria responder algumas perguntas importantes, foi um clichezaço à lá Harry Potter que, embora fofo, não serviu para apaziguar todos os meus sentimentos e questões. E quanto a mãe da Katniss? E Gale? O que aconteceu com eles são apenas algumas das perguntas que me fiz.
   Posso dizer, de modo geral, que não me arrependo de ter lido essa trilogia, mesmo com esse final que me deixou meio pirada e que me fez pensar horas e horas depois do fim. Penso no primeiro livro e no terceiro: Será que tudo valeu a pena? 
   Suzanne Collins pode não ter me agradado em seu desenvolvimento, acho que ela tem uma certa dificuldade com cenas de ação e se atém a futilidades (uma descrição do traje da heroína ganha a mesma quantidade de linhas que uma morte, por exemplo). Mas ela toma decisões corajosas e tem boas "sacadas", o que faz da trilogia "Jogos Vorazes" algo acima da média dentro do gênero a que pertence (romance jovem adulto). Não é atoa a quantidade de livros que surgiram na onda desse, a temática é bem diferente dos romances YA que tinham sido lançados até 2010.
   Talvez o que tenha estragado essa história foi terem feito uma trilogia de uma trama que seria muito melhor contada em um só livro (no máximo dois). Ou talvez Jogos Vorazes simplesmente não tenha funcionado para mim como para os fãs dessa saga: eu vejo seus pontos positivos mas não foi uma leitura que gostei realmente de fazer. Tirando alguns momentos realmente bons, não via a hora do livro acabar.
   Enfim, se você gosta de YAs, de distopias e de finais agridoces, Jogos Vorazes é a sua saga. Se fosse pelo final ou pelos três livros, daria um 8 (bom) mas, analisando somente esse terceiro livro, minha nota é 7 - apesar do começo bem ruim, é um livro razoável e tem momentos realmente bons.


Confira a sinopse do livro no Skoob

"My work always tried to unite the true with the beautiful; but when I had to choose one or the other, I usually chose the beautiful." -- Hermann Weyl Miss Carbono que é o numero 6 na tabela periodica


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