|RESENHA| A história secreta - Donna Tartt

sexta-feira, janeiro 01, 2016 0 Comments A+ a-


   Um livro que nos conta, logo no primeiro capítulo quem é o assassinado e quem são seus assassinos: Logo nos primeiros capítulos sabemos que um dos colegas do narrador, Richard, foi assassinado por ele e por seus outros amigos. Só resta uma única dúvida: Por que eles cometeram tal crime? E é com "apenas" a resposta dessa pergunta que Donna Tartt constrói toda a primeira parte de "A história secreta". 
   Depois desse primeiro capítulo somos mandados a alguns meses atrás, quando Richard Papen, um jovem estudante de medicina da Califórnia, resolve tentar uma bolsa do outro lado do país, uma escola chamada Hampden. Richard quer fugir de sua vida pobre e miserável no interior desse estado e de seu destino nos negócios da família (frentista num ponto de gasolina). Ele consegue a bolsa e vai estudar Letras, já que havia decidido a tempos que medicina não era para ele.
   Já em Hampden, Richard manifesta interesse em cursar grego, matéria que já fazia na Califórnia, mas é informado que esse curso, apesar de existir na instituição, não é aberto a todos. O professor, um homem exótico chamado "Julian", seleciona ele mesmo seus alunos, jovens que considera promissores e o informa, que toda a delicadeza que naquele ano sua turma já está fechada. Com 5 alunos apenas. 
   Richard então começa a cursar Letras mas inicia uma espécie de obsessão com o que ele chama de "a turma de Grego", pessoas que se destacam na multidão de hippies e jovens da escola por estarem sempre bem vestidos e distantes de todos os outros alunos do Campus. "A turma de Grego" parece viver num mundo particular e Richard quer fazer parte desse mundo. 
   Comecei a ler esse livro por um motivo bem fútil, é verdade: li no Instagram alguém que o comparava com a série "How to Get Away With Murder". Como estou viciada nessa série comecei a ler o livro imediatamente. Fútil, mas me trouxe uma das melhores leitoras de 2015. 
   Donna Tartt constrói uma trama cheia de detalhes e referências a literatura clássica que é difícil de largar. A forma como ela narra o livro, com trechos fechados espalhados em capítulos longos tornar a leitura fluída e super rápida - li o livro no Kindle e me assustei quando descobri que tem mais de 500 páginas, pois não parece tudo isso. 
   Os personagens são extremamente bem construídos: Temos Richard, o narrador, Henry, uma espécie de líder da turma, um jovem brilhante e misterioso, Francis, um ricaço homossexual e hipocondríaco, os gêmeos Camilla e Charles, amistosos e misteriosos a sua própria forma e, claro, Bunny, exagerado, divertido, misógino, canalha, aproveitador, encantador... É fascinante a forma como, da primeira a última página, nossa visão desses personagens vão mudando ou se aprofundando, formando figuras com muitas camadas e inesquecíveis.
   Como eu disse no ínicio, a primeira parte da trama é centrada no "porquê" do crime e nas circunstâncias que levaram a ele. Já a segunda parte trata das consequências desse homicídios. Apesar da aparente naturalidade e frieza com que cometem o assassinado e a tranquilidade em mascará-lo depois, esse fato marca a todos de forma irrevogável
    Essa "marca", no entanto, é bem sútil, você pega num diálogo, numa cena, num detalhe. Isso é o que eu mais gostei do livro, a forma como Donna Tartt constrói uma história cheia de nuances e coisas "não-ditos" que são mais significativos para entender a motivação dos personagens e os personagens em si do que a própria narrativa de fato. Em "A história secreta", Donna Tartt nos apresenta uma espécie de colcha de retalhos, um quebra-cabeça, montado com tanta inteligência e elegância que os leitores se veem cativados. Terminei o livro e quis relê-lo imediatamente pois tinha certeza que, com base no final que já sabia, pegaria nuances em suas páginas que não havia captado na minha primeira leitura (ainda vou relê-lo, isso é certo e prestar atenção a tudo isso).  
   Talvez você tenha lido tudo isso acima e se assustado, pensando que se trata de algum livro "difícil" com digressões sem sentido ou com uma escrita muito rebuscada. Nada disso, Donna Tartt escreve de um jeito muito elegante e envolvente. Ela abusa das referências diretas e indiretas a obras clássicas, isso é certo, mas não torna a obra incompreensível se você não leu Virgílio ou "As Bacantes", só mais interessante se você as leu (o que não é o meu caso, mas assistam esse vídeo). 
   Eu recomendo se você estiver querendo um livro de suspense diferente. Não um thriller, mas com uma trama policial, não um clássico proclamado, mas com características de clássico (em tempos: vi pessoas comparando esse livro a "O Grande Gatsby", do Fitzgerald mas ACHO que a segunda parte também tem algo de "Crime e Castigo"), não um dramalhão, mas um livro com situações dramáticas. Leia "A história Secreta", livro publicado em 1992 e chegue ao final perguntando-se porque raios não leu esse livro antes

   Nota 9,5 - esse livro é tão espetacular que poderia ser facilmente um 10 (favorito), mas tirei meio ponto porque uma releitura é necessária antes de considerá-lo como tal. 


P.S.: Coloquei o "acho" em caixa alta porque não li "Crime e Castigo" (ha!). Mas, pelo o que já li a respeito desse livro e pela trama da história, que já conheço, achei similar. 

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